terça-feira, 8 de julho de 2025

Resíduos

Cartuxa - personagem principal
Nascido em Portugal, no ano de 2005, vermelho escuro, ficou armazenado por 5 anos, mantendo-se curioso, criativo, falante e espontâneo, além de possuir um aroma enlouquecedor. Quando conseguiu respirar, entregou-se ao seu destino, apesar dos resíduos.
RESÍDUOS
Dezessete graus centígrados é o que revela o termômetro próximo ao meu guardião, que por 5 anos me envolve, com seu corpo reto, ombros bem definidos e textura translúcida que me permite observar o lugar em que vivo.
Um quarto compacto, com umidade controlada, cheio de prateleiras de madeira pura, criteriosamente distribuídas no espaço e moldadas com cortes arredondados, cujos formatos são de encaixe perfeito para as dezenas de guardiões se deitarem e assim permanecerem imóveis, condenando à mesma situação os seus envolvidos.
Tais guardiões possuem na ponta de seu pescoço um tampão esquisito, chamado rolha, resistente e difícil de remover. Perdi as contas das tentativas de diálogo para que me deixasse sair. Ufa! e os empurrões? Nenhum resultado. Nada acontecia! Agora, curioso mesmo era uma espécie de caroço que o guardião possuía no fundo. Para que serve? Qual a utilidade? Que curiosidade?
Crrrrrrrrr!!! Eita! O som da porta rompe o silêncio. Alguém está entrando. É o proprietário do lugar. Um senhor alto, esguio, cabelos brancos, expressão séria, olhar atento. Há um tempo ouvi alguém o chamar de Orlando.
Orlando nos observa, e num ritual de espantar se aproxima das prateleiras, retira alguns guardiões do lugar e os ergue a uma certa altura. Em seguida lê as mensagens grudadas em seus corpos, os rótulos, que trazem informações nossas, os envolvidos, ou como nos costumam chamar, vinho. Em seguida, desaparece com o escolhido.
Sobre mim, o verso do meu rótulo revela que sou português, filho de três uvas, cor vermelho escuro, teor alcoólico de 14%, o que quer dizer que sou curioso, criativo, falante, espontâneo e com muita ciência do sex appeal, além do meu nome. Chamo-me Cartuxa, nascido em 2005.
Epa! Orlando se aproxima de mim! Será que é a minha vez!!!  Será que, finalmente, sairei daqui? Vejo mãos ao redor do meu guardião. Como é bom experimentar outras posições além da horizontal. Eita! o meu rótulo. Orlando está lendo minhas informações: sou Cartuxa, nasci em 2005, não aguento mais ficar por aqui. Sou curioso, criativo, falante, espontâneo e ciente do sex appeal! Desespero-me: ELE ME ESCOLHEU! ELE ME ESCOLHEU! VOU SAIR! VOU SAIR!
Não quero perder nenhum detalhe! Quanta curiosidade, mas uma insiste em me comandar: para que serve aquele caroço no fundo dos guardiões. Ahhh!! lentamente, preso às mãos do Orlando, observo ficar para trás o lugar em que vivi. Adeus prateleiras, adeus baratas e aranhas. Chegou a minha vez. Uma porta se fecha atrás de nós. Abre-se um mundo!
Que lugar claro! Que lugar colorido! Que lugar diferente! Orlando nos acomoda numa mesa posta com requinte. Uma outra pessoa coloca junto ao meu guardião uns copos esquisitos, com pés altos, finos e bocas largas como sorrisos abertos.
Duas visitas se sentam junto à mesa. Orlando maneja um metal esquisito, pega o meu guardião entre as mãos, aperta-lhe o pescoço e encaixa o esquisito metal no gargalo. Aos poucos a rolha que por tanto tempo me prendeu vai saindo. Ufa!! eu não conseguia acreditar. Enfim, livre!!!!
Fiquei tão, mas tão feliz que contaminei todo o lugar com meu aroma, só de um sopro, um sopro de alívio, um sopro de liberdade, um sopro só por respirar.
Ah! Os olhares de encanto de Orlando e de suas visitas me embalam. Sigo respirando, respirando. De repente vou me desgrudando de meu guardião. Divido-me entre os tais estranhos copos. Naquele momento, senti-me pleno ao ser conduzido pelo destino e no compasso de risos e conversas, deleito-me em mergulhos no corpo humano.
Ah!!! E numa espécie de rompante, volta a curiosidade: para que serve aquele caroço no fundo dos guardiões? Dentre as várias informações, uma me chamou atenção: acúmulo dos resíduos. Resíduos. Resíduos do que antes eu fui...
Adriane Morais

Do Recife à Taquara, do corpo à essência: nona caminhada da Taquara – 2025

No dia 29 de junho de 2025, fui uma entre 37 peregrinos da Unipaz-PE, partindo do Recife (praça de Dois Irmãos) rumo a Taquaritinga do Norte. Um desafio de quilômetros e quilômetros, a serem vencidos do domingo, dia 29.6, ao sábado, dia 5.7. As instruções e palavras de incentivos, inicialmente, foram introduzidas por Durão, Bárbara, Olívio e Anderson, os coordenadores oficiais.
Logo no primeiro dia, Recife – Aldeia, os coordenadores oficiais deixaram claro o elo elástico da coordenação que envolvia cada peregrino presente. Assim, ao todo, éramos 37 peregrinos coordenadores um-por-todos-e-todos-por-um, dos quais 2 foram os anjos ciclistas guardiões (os irmãos Olívio e Emílio) a nos acompanhar, entrevistar e orientar! Caminho aberto na reflexão sobre a mensagem proposta “o melhor modo de se encontrar é se perder servindo aos outros”. Mahatma Gandhi. Tema esse consolidado nas porções de cuidados entre mãos, cajados, risadas, histórias e piadas contadas entre poças de lama ultrapassadas. Percurso de lindas imagens, nos mais diversos SENTIDOS.
Segundo dia, 30.6, Aldeia-Paudalho, o sono é revigorante! Mensagem para reflexão: “Estar presente. Nós temos, cada um de nós, um papel a cumprir um trabalho a fazer, um lugar que somente nós podemos ocupar”. Mira Alfassa. Simbora para Paudalho num tempo decidido a mesclagens. chuva com sol. No verde molhado das paisagens, peregrinos a cada momento mais integrados. A magia do estar presente já estava rolando. Gente que nunca tinha se visto começou a conversar como se fossem amiga (o)s de infância. Assuntos fluíam, as risadas escapavam fácil e o celular? Ahh! Momentos guardados, assuntos tratados...ninguém queria sair dali. Era como se o tempo tivesse dado uma pausa só pra deixar todo mundo se encontrar de verdade. Sem pressa, sem pose, sem MÁSCARAS.
Terceiro dia, 1.7, Paudalho-Limoeiro. Mensagem do dia: “um sorriso age sobre dificuldades como o sol sobre as nuvens – dispersa-as”. Mira Alfassa. O tempo mesclado continuou e as poças de lama, ainda maiores e mais frequentes, ampliaram as porções de cuidados. Canções, cantores, reflexões, rezas etc., movimentavam pernas, tênis, papetes, cajados e bastões. A partir do distrito de Camboa, duas lagoas separaram parte do grupo. O caminho traçado era seguir para Lagoa de Itaenga, mas 10 peregrinos (eu no meio)numa curva se desviou, seguindo para Lagoa do Carro. Ahh! Tinha que brilhar a magia da mensagem do dia, né? Os sorrisos agiram sobre as dificuldades, incluindo o vai e vem do sinal para o GPS. Olha, quando visualizamos a Toyota a caminho do nosso resgate, até o cansaço se fez sorriso. E não é que o desvio foi acerto! Com botas, tênis, papetes, meias recheadas de lama e tudo MAIS.
Quarto dia, 2.7, Limoeiro-João Alfredo. Mensagem do dia: “escolha do silêncio. Em concentração e silêncio devemos reunir força para ação correta” – Mira Alfassa. Tempo decidido. Sol moderado. Percurso de paisagens encantadoras. João Alfredo é um verdadeiro refúgio para quem busca paisagens naturais ou o ecoturismo. Olha a Mira Alfassa na magia novamente, convidando ao silêncio e à contemplação, já que a natureza falava mais alto. À noite, o vinho nos fez vozes e violão, numa seresta de frevos e canções, fomos também CELEBRAÇÃO.
Quinto dia, 3.7, João Alfredo-Surubim. Mensagem do dia: “não há melhor caminho para se tornar amigos do que rir juntos”. Mira Alfassa. O sol já dizia a que veio quando partimos de João Alfredo. Fomos levados por Toyotas até o município de Salgadinho, rumo à Capela de Nossa Senhora Aparecida. Com o calor grudado às sensações acumuladas no corpo e na alma, o grupo contemplou, uns de bem pertinho e outros mais distantes da imagem da Nossa Senhora Aparecida, a harmonia e fé que os movia, com risos em amizades já em rica conexão. Atmosfera espiritual interessante, já que ainda havia chão até Surubim, e o deus sol só aumentava. E como se o calor humano também tivesse roteiro, Mira Alfassa nos presenteou com mais uma coincidência encantada. Numa bodega fora da rota, uma pausa inesperada: 4 peregrinos (eu no meio), uma avó, a neta Isadora e 2 cavaleiros. Risos soltos, memórias da Caminhada da Taquara de 2024, e então, um gesto sela o momento. Um bilhete da pequena Isadora, num recorte simples de papel, com 2 corações desenhados e a frase: “Que Deus te acompanhe por todo lugar por onde for.” Lemos. Emocionamo-nos. Rimos. Que riqueza. E com a imagem dos olhos satisfeitos e curiosos de uma criança, agradecemos. Mira Alfassa, EITA!
Sexto dia, 4.7, Surubim-Vertentes. Mensagem do dia: “mude a si mesmo se quiser mudar o mundo”. Mira Alfassa. O sol a pino, implacável, acompanhava cada passo no asfalto quente e no estreito meio-fio (como seria revolucionário para os pés se os caminhantes exigissem espaços dignos e seguros, reduzindo o império do asfalto sobre rodas, né?). Os flamboyants, em flor, surgiam como pequenos milagres de sombra e cor. Imagens de alívio no caminho árido. Simbora! Entre uma frase e outra estampada nas Toyotas que cruzavam nosso trajeto, exercitei o humor como escudo e a resistência como oração. Paradas se tornaram bênçãos: o Posto Rocha, a barraca do coco. Por volta do quilômetro 19, um engasgo de felicidade: o Rei da Buchadinha. Almoço. Descanso merecido. Retomamos a jornada, vencendo mais 7 km até o Posto Sanharão. Lá, embarcamos no ônibus escolar rumo a Taquaritinga do Norte. Seguíamos, peregrinos, aprendizes eternos das diversidades nos limites do corpo e da alma. Desde o primeiro passo, ainda em Recife, saímos do que ÉRAMOS.
Sétimo dia, 4.7, subida da serra da Taquara. Mensagem do dia: nosso melhor amigo é aquele que nos ama no melhor de nós mesmos e não nos pede para sermos diferentes do que somos. Mira Alfassa. Com o sol num brilho quente e lindo, embarcamos novamente no ônibus escolar rumo ao pé da Serra Taquara para encararmos o desafio derradeiro, a subida da Serra da Taquara. Nossa! Coração acelerado pelo esforço da subida, além do acúmulo registrado no corpo e mente. Lágrimas disputaram no meu rosto espaço com o suor. Sim, Sra. Guru Alfassa, foi uma explosão de arrepios, lágrimas e risos, dos acúmulos de momentos de dores, alívios, medos, alegrias, dúvidas, certezas, carinho, amizade, trocas, desabafos, cuidados etc. etc. Fui eu mesma, sem máscaras ou FILTROS com pessoas MARAVILHOSAS.
Minha mais profunda gratidão aos organizadores, à Unipaz-PE, a cada peregrino e peregrina que compartilhou passos, dores, desabafos, silêncios e risos. Às minhas companheiras de quarto, por cada conversa, cuidado e acolhimento. Aos anjos ciclistas por tanto apoio e interesse. Ao Rodrigo e à Lunatour, por todo o profissionalismo. E aos anônimos do caminho que, mesmo entre o espanto ou a curiosidade, nos abençoaram com gestos calorosos, olhares e palavras de incentivo.
Adriane Morais

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Pessoas de bem que querem o mal - Educação!

 

                                        

Enquanto isso, no País Brasil um militar fracassado conseguiu votos dos cidadãos que se intitulavam ou se intitulam (nem sei) “de bem” e “anti-qualquercoisacontrária”, “dos que se anularam”, “dos que assumiram uma dúvida eterna” e “dos que pensaram ou pensam que qualquer coisa é a mesma coisa” para se tornar presidente da nação tupiniquim verde e amarelo, cores adotadas lá na Proclamação da Independência do Brasil, em 1822. Uma independência fake (de mentirinha, coisa normal desde sempre por aqui), pois apenas foi reconhecida por Portugal e outras Nações em 1825. O verde representa a Casa de Bragança, de dom Pedro 1º, de Portugal, e o amarelo representa a Casa de Habsburgo, de Maria Leopoldina, da Áustria. As florestas e o ouro foram criação de uma lorota poética passada adiante. Assim, democraticamente, após um parto executado com uma facada de borracha, o Brasil das casas verde e amarela, florestas dizimadas e ouro para adornos de corruptos e corruptores assenta nos poderes o presidente eleito e sua trupe. Foi (e continua) uma farra! Digna de uma nação de casas e grupos diversos.

Capítulo Educação:



Ricardo Vélez Rodríguez, primeiro ministro assentado na pasta da Educação, cujo nome foi sugerido por Olavo de Carvalho (quem é? Por favor, pesquisem, pois as linhas a seguir já são indigestas demais). Colombiano, diz-se filósofo, ensaísta, teólogo e professor colombiano naturalizado brasileiro. No Brasil, foi professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e lecionou em universidades da França, Estados Unidos e Colômbia. Professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, responsável pela formação de oficiais de alta patente (imagina!). Na política, foi ministro da Educação, de 1º de janeiro a 8 abril de 2019. Saiu porque acumulou problemas diversos na pasta, daí, foi substituído por Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub.

Abraham Weintraub se graduou em ciências econômicas pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA Executivo Internacional e mestrado em administração (área de finanças) na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi professor da Universidade Federal de São Paulo (Pense!).

Executivo do mercado financeiro com mais de vinte anos de experiência, atuou como economista-chefe e diretor do Banco Votorantim e como sócio na Quest Investimentos. Foi integrante da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro.

Após a demissão do Ricardo Vélez, o presiBrasil comunica a indicação do Professor Abraham Weintraub ao cargo de Ministro da Educação, utilizando as seguintes palavras: Abraham é doutor professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta. Aproveito para agradecer ao prof. Velez pelos serviços prestados.

E assim foi o que nunca deveria ter sido. Propostas para reforma do ensino médio classificada como insatisfatória pelo Banco Mundial; críticas de personalidades do segmento ao tal ministro como “sem educação, grosso, horrendo, nojento”; cortes no orçamento das universidades federais (doutor professor??); propostas para os alunos filmarem os professores em sala de aula sem autorização; ofensas do tipo “sem caráter e calhorda” ao presidente da França, Emmanuel Macron; ofensas a Lula e a Dilma no episódio ainda não esclarecido do militar que transportou drogas num avião da comitiva do tal presiBrasil; veio a público o desprezível desempenho do tal doutor professor no curso de economia; confusões em universidades após os cortes orçamentários executados pelo tal ministro; erros gramaticais e ortográficos; conflitos com a imprensa; falhas desastrosas no ENEM; ataques racistas aos povos indígenas; ataques racistas à China e ataques ao STF (o supremo da máxima justiça acertada).

Em 18 de junho de 2020, Weintraub anunciou sua saída do Ministério da Educação, em meio a uma investigação da polícia federal do Brasil, e numa possível fuga das responsabilidades com a justiça. A exoneração ocorreu enquanto o ministro estava em solo estadunidense. Após a saída do MEC, Weintraub foi indicado para trabalhar na diretoria do Banco Mundial. Passa bem!

Carlos Alberto Decotelli da Silva se diz um economista e professor brasileiro. Foi nomeado ministro da Educação do Brasil, em 25 de junho de 2020, mas cinco dias depois renunciou, antes de assumir o cargo, em virtude de uma série de controvérsias em relação à titulação acadêmica informada em seu currículo, não chegando a tomar posse. Vários foram os memes com o selo Decotelli do Fake educativo. No currículo do Decotelli não se sabia o que era real!

Em 16 de julho de 2020, Chega um pastor ao Ministério da Educação, jesus! Milton Ribeiro se diz um pastor presbiteriano, teólogo, advogado e professor brasileiro. Até agora, segue com a fé que o trouxe ao poder, expondo ideias de reprovação ao homossexualismo; é a favor da censura em programas de televisão; e assumiu a benção de um deus ao defender que não é  ou será abençoada a vida sexual plena fora do casamento (putz!!) Ah! e a educação? Em meio à pandemia e aos shows de desinteresse e desorganização do governo para aquisição das possíveis vacinas, o tal ministro presbiteriano ainda não sabe se liberará o ensino superior em janeiro de 2021.

... a seguir, Capítulo Saúde.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

CONTO EU, NO MEU TEMPO!



Final de ano, encontro-me distante. Sentidos sem conexão, buscando ao redor energia para superar a pane em flashes. Numa agitada praça, percorro espaços querendo o íntimo.
Formatos e movimentos, novos uns, novamente outros, misturam-se a um guerreiro verde, elevado por caules em folhas ou rastejante em gramados. Nada, além de mim, está imóvel e solitário na praça.
Um casal de idosos caminha de mãos dadas; uma mulher falando ao celular puxa numa coleira um cachorro ou cadela, nem sei, pois tantos eram os adereços e poucas eram as partes à mostra; uma pessoa conversando ao celular caminha com outra também ao celular; duas pessoas juntinhas e sentadas, mas conquistadas por conexões virtuais; um ciclista envolve a bicicleta com um cadeado; crianças exploram brinquedos de ferros e madeira e os gritos, risadas e choros testam os sentidos dos pais e mães; um pequeno grupo define espaço com panos no chão, comidas e bebidas em caixas e solos de violão; uma pessoa grita por outra; um gato corre atrás de outro e um cansado cachorro se espreguiça no gramado. Isso tudo já é saudade. Eu, curto circuito!
Apesar do claro, o escuro me acompanha nos formatos e movimentos fora de mim. A ansiedade encurta e acelera os flashes. Pronto! Sou quase nada num turbilhão de interrupções.
O sol recolhe as cores e parte da lua começa a chamar estrelas. Os formatos e movimentos continuam, pois não os deixo sair do que ainda tenho como imagem de ação. Novos uns, novamente outros. Não quero, mas o sentido que me deu origem mudou, e antes do fechamento da praça, deixo de ser sem despedidas.
Reergui-me junto com o amanhecer! Sinto-me diferente. Está tudo claro, sem a intromissão do escuro. Olhei ao redor. Mantive silêncio, mas a praça já era movimento dos visitantes. Novos uns, novamente outros.
Aproxima-se o casal de idosos. Caminham e juntos são cúmplices da solidão de possuírem família que não os têm; o cachorro/cadela que, com repletos adereços, desfila em quatro patas a agonia do carinho imposto pela dona mãe; conversas infinitas entre pessoas juntas, mas afastadas por celulares; ciclistas envolvem em cadeados diversos bicicletas para impedir que outras pessoas as façam sumir; crianças buscando atenção dos pais e mães em arriscadas brincadeiras; risos e canções de um grupo em piquenique nem sempre são finalizados com ausência de choros e violência; gritos nem sempre felizes; animais descansam na praça dos riscos das ruas. Isso tudo e muito mais para o bem ou para o mal apenas seguem. Eu, renovado? Por quê?
O ser humano é uma estrutura mutável e por assim ser o passado se torna provocação do futuro que o presente planeja, perseguindo o perfeito numa versão presa no insuficiente e/ou decadente.
O homem se espelha no bem e se desafia no mal, ou será o contrário? O fato é que venho como solução humana e assim condenado a dar luz num escuro público natural.  
Pois então, sou assim, uma versão renovada e sustentável de mim. Uma cria humana, desligada de cabos emaranhados, mas fincado no solo, para ser a energia sol de um painel, doando luz ao que é e ao que será, num ano que não me fez fim, seja para o bem ou para o mal, conto EU, no meu tempo!

Adriane Morais

terça-feira, 8 de março de 2016

Correndo nas histórias das Pontes do Recife

Há certas corridas que se transformam num verdadeiro xodó para corredores de rua. A corrida das pontes no Recife é uma dessas, e, claro, no percurso completo, com 10 Km, os destaques são sete estruturas erguidas em estilos e épocas diferentes; sete conexões por sobre os rios Capibaribe e Beberibe que transformaram a Mauriceia no Recife, representando símbolos marcantes na história e no crescimento de uma cidade dividida entre o mangue e o sal.
E a primeira ponte a testar os participantes é a Limoeiro. Inaugurada em 1881 para dar passagem a trens, já que o que bombava à época era o transporte ferroviário do açúcar entre o Recife e a cidade de Limoeiro. A estrutura não é a mesma de antes, arquea-se sobre o rio Beberibe, une o bairro do Brum ao de Santo Amaro e a Rua Cais do Apolo à Avenida Norte. Ao passar por esse trecho, sinta a vibração da energia de uma cidade que triunfou da água doce, pois fará toda a diferença. Ah! Aproveita e dá uma paquerada em Olinda.

Simbora para a segunda ponte! Princesa Isabel. Inaugurada em 1863. Diz-se que foi a primeira ponte de ferro da cidade. Em 1913, reconstruída e depois, diante das enchentes do rio Capibaribe, reestruturada, em 1967. Apesar de ser conhecida pelo nome Princesa Isabel, há controvérsias, gerando certa crise de identidade, pois alguns historiadores afirmam ser Santa Isabel e outros, Pedro II. Aqui sua respiração pode ficar abalada, mas mantenha o corpo ereto e suavize o movimento na paisagem.

Em seguida, Ponte Buarque de Macedo, a terceira. Lá nos idos 1882, foi construída em madeira, mas apenas inaugurada em 1890. Em 1922, foi reconstruída em concreto armado para, em 1923, ser reinaugurada. No seu nome, a homenagem a um político e engenheiro pernambucano, Manuel Buarque de Macedo. Dobra-se sobre a junção dos rios Capibaribe e Beberibe, ligando a Avenida Rio Branco à Praça da República. Não sei se as pernas estão identificando, mas essa é a ponte mais extensa da cidade...uuuii!. O cansaço começa a querer chamar mais atenção do que as pontes, né? Deixe não! Não esquece a hidratação, e segue, que tem mais!

Eis que se apresenta a Ponte Maurício de Nassau, a quarta. Lá nos idos 1643, ainda cidade Maurícia, arqueava-se a primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, Ponte do Recife. Com o tempo, várias reformas foram realizadas. Em 1865, a estrutura foi substituída por uma de ferro e o nome foi alterado para Ponte 7 de Setembro. Mas sabe como é...a maresia logo, logo deu por vencido o ferro, deteriorando-a de ponta a ponta. Em 1917, foi reconstruída, agora a base de concreto armado e reinaugurada como Ponte Maurício de Nassau, mantendo-se em forma até hoje. Nos extremos, quatro estátuas de bronze se destacam, duas apontando para o bairro de Santo Antônio, o deus Mercúrio (comércio) e a deusa Themis (Justiça), e duas, para o bairro do Recife Antigo, as deusas Minerva (sabedoria) e Ceres (agricultura). E a poesia também tem seu representante imortalizado, cravado e recostado ao balaústre dos arcos que cercam tal estrutura, numa escultura em concreto armado polido, Joaquim Cardozo, que além de poeta era engenheiro civil, e trabalhou com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Chegou até aqui?! Agora é manter o que pode e seguir com o poeta e com os deuses e deusas, consciente de que sob o impulso dos seus esforços muitos sonhos foram materializados!

A da vez, a quinta, Ponte Duarte Coelho. Construída em 1868, toda em estrutura metálica. Viabilizava o transporte ferroviário, as linhas de bonde a vapor, conhecidas como maxambombas. Lá em 1915, a ponte foi desativada diante do desgaste do tempo e vendida ao ferro velho. Demorou um pouquinho, e em 1943, a ponte ressurge, dessa vez em concreto armado, mantendo a forma até os dias atuais. É considerada uma das pontes mais belas da Cidade, curvada sobre o rio Capibaribe. Liga os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, e a Avenida Conde da Boa Vista à Avenida Guararapes. Uuuiaa! Tá faltando pouco. Solte-se na endorfina e na adrenalina, recrie o Galo da Madrugada nas passadas dos próximos Km. Vai que já deu!

Chegando na Ponte Boa Vista, a sexta. Essa foi a segunda ponte a ser construída na cidade, ainda sob as ordens de Maurício de Nassau, nos idos 1643, em sete semanas e em madeira resistente. O local de origem era diferente do atual, ligando os bairros da Boa Vista ao de Santo Antônio, nos trechos envolvendo onde hoje se encontra o convento do Carmo até a Casa da Cultura. Entre os anos de 1737 a 1746, a ponte foi reconstruída, ainda a base de madeira, assumindo o posicionamento atual, entre a Rua Nova, no bairro de Santo Antônio, e a Rua da Imperatriz, na Boa Vista. Com o tempo e após diversos reparos, em 1815, a estrutura recebeu grades de ferro, calçamento com seixos, trazidos da Ilha de Fernando de Noronha, varandas de cada lado onde foram instalados bancos de madeira que, à época causaram o maior frisson, pois a paquera rolava solta, assim como as fofocas, causos urbanos e poesias. Em 1874, a ponte foi reconstruída, dessa vez toda em ferro batido e os famosos bancos foram excluídos. A inauguração ocorreu em 1876, assumindo um desenho semelhante ao de uma ponte em Paris, a Ponte Nova. Nas pilastras, há inscrições que registram datas e fatos históricos relevantes de Pernambuco e do Brasil, vale a pena conferir. Entre os anos de 1965 e 1966, diante das enchentes do rio Capibaribe, a ponte foi restaurada, em 1967, no que teve a sua estrutura descaracterizada, com passarelas alargadas e os pilares concretados. Ufa!!! Coração a mil, histórias acumuladas no cansaço e nas passadas, rumo à última ponte.

A derradeira, a Ponte Giratória. A sua construção em ferro foi determinada em 1920, diante da modernização do porto do Recife, está arqueada na embocadura dos rios Capibaribe e Beberibe e liga a Avenida Alfredo Lisboa/Cais da Alfândega à Avenida Sul/Cais de Santa Rita. Assumiu um modelo rodo-ferroviário de vão central giratório, a fim de favorecer a passagem das embarcações veleiras e, ao mesmo tempo, permitir o transporte ferroviário que transitava no porto. Foi inaugurada em 1923, e quando a engrenagem lhe dava o giro, abria-se caminho ao transporte marítimo. Antes do movimento ocorrer, soava uma sirene que, apesar de estridente, não foi suficiente, à época, para evitar os vários registros de acidentes...e da ponte caíam carros e caíam caminhões. Bem! Com o crescimento do transporte rodoviário, o tráfego de embarcações foi diminuindo, e a função da ponte foi caindo em desuso, motivo pelo qual foi desmontada e em seu lugar cravaram uma outra, mais ampla e em cimento armado, inaugurada em 1971, recebendo o nome de Ponte 12 de setembro, data que prestigiava as reformas ocorridas no porto. Bem! Apesar da boa intenção com o novo nome, não tinha recifense que o absorvesse, e diante desse fato, a Prefeitura da Cidade do Recife abriu mão da mudança, cedendo à denominação de Antiga Ponte Giratória.  Vai...abre os braços...e respira fundo!!!



Huhuhu!!!! Olha você aqui...já pensou? Viu quanta história o acompanhou? Viu o quanto esses rios nos estimularam/desafiaram e nos estimulam/desafiam? Dos questionamentos anseio para que consigamos dar a devida e real importância às águas doces dos sangrados guerreiros Beberibe e Capibaribe por tempos sem fim. Olha! Faltam alguns poucos KM, mas daqui até o Forte do Brum, você é a ponte surpresa para a reta final. Reconstrua-se, reinaugure-se no respirar e em cada movimento!

quarta-feira, 2 de março de 2016

A NADA MOLE VIDA DO CORREDOR

A história começa com uma tímida decisão de entrar no mundo da prática da corrida de rua. O início não foi fácil. Vencer a respiração ofegante; ativar movimentos que antes não eram tão fortemente exigidos; aguentar as dores musculares; controlar a ansiedade, pois rapidamente se entende que correr não é simplesmente colocar um tênis e sair mexendo as pernas por aí; organizar postura; aceitar que a evolução sempre será diretamente proporcional à dedicação; que cada um possui o próprio ritmo, etc. Com o passar do tempo você descobre que o bem-estar trazido pela repetição da prática vai contaminando a mente e o corpo. A autoestima aumenta, o corpo vai ganhando contornos mais bonitos, os músculos são tonificados, o bom humor se torna mais presente, o raciocínio e a memória são estimulados e os pulmões agradecem, pois ganham na ampliação da capacidade de funcionamento. E a partir desse movimento a louca harmonia entre as dores e as alegrias da atividade da corrida já se torna realidade.

Os treinos vão melhorando a performance. A vontade de correr ganha espaço nos finais de semana e longões convocam o sábado na madrugada, e num desses, um e mais um... corredores e corredoras vão se juntando, idades diversas, experientes e nem tanto, mas cúmplices de uma prova a céu aberto. Mal o rei sol se apresenta no rasgar do dia, o grupo começa o desafio, jogando mente e corpo a cada quilômetro percorrido. A cidade do Recife ganha outros contornos, com olhos mais próximos, e à medida que as paisagens vão se alterando, reações fisiológicas e hormonais atingem os desafiantes. O foco na meta do quilômetro derradeiro, a partir de certo momento, passa a ter as dores, cansaço e/ou esgotamento seguidos pelas liberações de serotonina e endorfina...risos e choros podem ser percebidos ou algum comportamento estonteante de alegria, como, por exemplo, não resistir a cair nos braços do mar...saciada a vontade, volta-se ao asfalto, com um riso salgado, corpo e mente refrescados. Ter a consciência de que a corrida deve ser antes de qualquer coisa uma atividade prazerosa é condição necessária para sua evolução saudável.

A divisão de cena com o mergulho no mar ocorreu num trecho do          bairro de Brasília Teimosa, vizinho a Boa Viagem e ao Pina, na praia   de Buraco da Veia, apelidada assim porque à época morava nas               palafitas uma velha que, por não se conformar com a construção de um muro pelo Iate Clube que impedia o acesso à areia, abriu-lhe um buraco. Bem!! Confusão para lá...confusão para cá...o tal muro foi derrubado e a praia de águas calmas, contornadas por pedras, recebeu o nome da situação.

Daí, eis que se aproxima o atingimento da meta! Nesse momento, corpo e mente se fundem numa força sobrenatural, com adrenalina bombardeando e agitando o caldeirão do cansaço, suor, serotonina, endorfina. Concluí a prova...venci-me em mais um desafio...e como uma onda de boas energias conectadas, corredores e corredoras, conhecidos ou não, absorvem-se de uma emoção que para muitos estará presente por corridas e corridas a fio!!!! 





quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tropeços do breve




Caminho nas entonações e simbolizo as pausas forçadas e as acidentais. O meu mundo é o exercício desafiante do comunicar. Não é uma tarefa fácil e com frequência atraio controvérsia! Às vezes, tenho que separar, isolar, suprimir, modificar significados e até chamar atenção, sem delongas, mas com uma brevidade que faça sentido, afinal no embaralhado de palavras, contorno sentimentos, ideias e pensamentos.
Quando convocada, tenho que conhecer e entender o conteúdo, pois me responsabilizo por dar fluência ao que se escreve. Divirto-me nas alegrias, choro nas tristezas e me aborreço nas situações equivocadas. Ser Pausa é compreender o relutar, nas curtas durações!
Entretanto, há momentos em que assumo descontroles e sigo patinando nas palavras sem encontrar encaixe, e em outros, faço-me repetidamente presente, picotando sentidos, cansando o desnecessário. Ser pausa nem sempre se traduz simples, apesar das curtas durações!
E talvez por ser assim, a criadora gramática dos homens me tenha desenhado com essa pequena, mas contorcida forma, para passear nos textos discretamente, entretanto sem esquecer a delícia e a dor de um sinal gráfico bem decidido na composição de imaginações, sonhos, ações, reações, opções, poesias, discursos, músicas, questionamentos, em fim de vírgulas para sempre durar.

sábado, 11 de julho de 2015

O Sim no Não




Na viagem inquieta do entender,
abraçar o erro inicia condição.
Um passo após não se render,
espera-se por mais razão.
A mente se expande em ser,
rasgando trilhas para o sim do não.
Confrontam-se ver e enxergar,
cruzando superficial e intuição.
Para as possibilidades, ousar;
nos sentimentos, opção,
guiando sem querer chegar:
o difícil diálogo entre o sim e o não. 
E se a viagem cambaleia, seguir.
Coração pulsa talvez...decepção.
Nas razões confusas, o persistir;
traídos porquês na solidão,
impulsos enfim para existir:
na liberdade desejada do sim, o não 
Do passado, o agora puxa reverter
e o futuro para a viagem segue sem fim.
Entender desafia a vontade de querer
ser mais que o possível de mim,
recriando histórias do amadurecer,
nas desafiadoras escolhas do não no sim.