Há certas
corridas que se transformam num verdadeiro xodó para corredores de rua. A
corrida das pontes no Recife é uma dessas, e, claro, no percurso completo, com
10 Km, os destaques são sete estruturas erguidas em estilos e épocas diferentes;
sete conexões por sobre os rios Capibaribe e Beberibe que transformaram a Mauriceia
no Recife, representando símbolos marcantes na história e no crescimento de uma
cidade dividida entre o mangue e o sal.
E a primeira
ponte a testar os participantes é a Limoeiro. Inaugurada em 1881 para dar
passagem a trens, já que o que bombava à época era o transporte ferroviário do
açúcar entre o Recife e a cidade de Limoeiro. A estrutura não é a mesma de
antes, arquea-se sobre o rio Beberibe, une o bairro do Brum ao de Santo Amaro e
a Rua Cais do Apolo à Avenida Norte. Ao passar por esse trecho, sinta a
vibração da energia de uma cidade que triunfou da água doce, pois fará toda a
diferença. Ah! Aproveita e dá uma paquerada em Olinda.
Simbora para a
segunda ponte! Princesa Isabel. Inaugurada em 1863. Diz-se que foi a primeira
ponte de ferro da cidade. Em 1913, reconstruída e depois, diante das enchentes
do rio Capibaribe, reestruturada, em 1967. Apesar de ser conhecida pelo nome
Princesa Isabel, há controvérsias, gerando certa crise de identidade, pois
alguns historiadores afirmam ser Santa Isabel e outros, Pedro II. Aqui sua
respiração pode ficar abalada, mas mantenha o corpo ereto e suavize o movimento
na paisagem.
Em seguida,
Ponte Buarque de Macedo, a terceira. Lá nos idos 1882, foi construída em
madeira, mas apenas inaugurada em 1890. Em 1922, foi reconstruída em concreto
armado para, em 1923, ser reinaugurada. No seu nome, a homenagem a um político
e engenheiro pernambucano, Manuel Buarque de Macedo. Dobra-se sobre a junção
dos rios Capibaribe e Beberibe, ligando a Avenida Rio Branco à Praça da
República. Não sei se as pernas estão identificando, mas essa é a ponte mais
extensa da cidade...uuuii!. O cansaço começa a querer chamar mais atenção do
que as pontes, né? Deixe não! Não esquece a hidratação, e segue, que tem mais!
Eis que se
apresenta a Ponte Maurício de Nassau, a quarta. Lá nos idos 1643, ainda cidade
Maurícia, arqueava-se a primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, Ponte
do Recife. Com o tempo, várias reformas foram realizadas. Em 1865, a estrutura
foi substituída por uma de ferro e o nome foi alterado para Ponte 7 de
Setembro. Mas sabe como é...a maresia logo, logo deu por vencido o ferro, deteriorando-a
de ponta a ponta. Em 1917, foi reconstruída, agora a base de concreto armado e
reinaugurada como Ponte Maurício de Nassau, mantendo-se em forma até hoje. Nos extremos,
quatro estátuas de bronze se destacam, duas apontando para o bairro de Santo
Antônio, o deus Mercúrio (comércio) e a deusa Themis (Justiça), e duas, para o
bairro do Recife Antigo, as deusas Minerva (sabedoria) e Ceres (agricultura). E
a poesia também tem seu representante imortalizado, cravado e recostado ao
balaústre dos arcos que cercam tal estrutura, numa escultura em concreto armado
polido, Joaquim Cardozo, que além de poeta era engenheiro civil, e trabalhou
com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Chegou até aqui?!
Agora é manter o que pode e seguir com o poeta e com os deuses e deusas, consciente
de que sob o impulso dos seus esforços muitos sonhos foram materializados!
A da vez, a
quinta, Ponte Duarte Coelho. Construída em 1868, toda em estrutura metálica. Viabilizava
o transporte ferroviário, as linhas de bonde a vapor, conhecidas como
maxambombas. Lá em 1915, a ponte foi desativada diante do desgaste do tempo e
vendida ao ferro velho. Demorou um pouquinho, e em 1943, a ponte ressurge,
dessa vez em concreto armado, mantendo a forma até os dias atuais. É
considerada uma das pontes mais belas da Cidade, curvada sobre o rio
Capibaribe. Liga os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, e a Avenida Conde da
Boa Vista à Avenida Guararapes. Uuuiaa! Tá faltando pouco. Solte-se na endorfina
e na adrenalina, recrie o Galo da Madrugada nas passadas dos próximos Km. Vai
que já deu!
Chegando
na Ponte Boa Vista, a sexta. Essa foi a segunda ponte a ser construída na
cidade, ainda sob as ordens de Maurício de Nassau, nos idos 1643, em sete semanas
e em madeira resistente. O local de origem era diferente do atual, ligando os
bairros da Boa Vista ao de Santo Antônio, nos trechos envolvendo onde hoje se
encontra o convento do Carmo até a Casa da Cultura. Entre os anos de 1737 a
1746, a ponte foi reconstruída, ainda a base de madeira, assumindo o
posicionamento atual, entre a Rua Nova, no bairro de
Santo Antônio, e a Rua da Imperatriz, na Boa Vista.
Com o tempo e após diversos reparos, em 1815, a estrutura recebeu grades de
ferro, calçamento com seixos, trazidos da Ilha de Fernando de Noronha, varandas
de cada lado onde foram instalados bancos de madeira que, à época causaram o
maior frisson, pois a paquera rolava solta, assim como as fofocas, causos
urbanos e poesias. Em 1874, a ponte foi reconstruída, dessa vez toda em ferro
batido e os famosos bancos foram excluídos. A inauguração ocorreu em 1876,
assumindo um desenho semelhante ao de uma ponte em Paris, a Ponte Nova. Nas
pilastras, há inscrições que registram datas e fatos históricos relevantes de
Pernambuco e do Brasil, vale a pena conferir. Entre os anos de 1965 e 1966,
diante das enchentes do rio Capibaribe, a ponte foi restaurada, em 1967, no que
teve a sua estrutura descaracterizada, com passarelas alargadas e os pilares
concretados. Ufa!!! Coração a mil, histórias acumuladas no cansaço e nas
passadas, rumo à última ponte.
A
derradeira, a Ponte Giratória. A sua construção em ferro foi determinada em
1920, diante da modernização do porto do Recife, está arqueada na embocadura
dos rios Capibaribe e Beberibe e liga a Avenida Alfredo Lisboa/Cais da
Alfândega à Avenida Sul/Cais de Santa Rita. Assumiu um modelo rodo-ferroviário
de vão central giratório, a fim de favorecer a passagem das embarcações
veleiras e, ao mesmo tempo, permitir o transporte ferroviário que transitava no
porto. Foi inaugurada em 1923, e quando a engrenagem lhe dava o giro, abria-se caminho
ao transporte marítimo. Antes do movimento ocorrer, soava uma sirene que,
apesar de estridente, não foi suficiente, à época, para evitar os vários registros
de acidentes...e da ponte caíam carros e caíam caminhões. Bem! Com o
crescimento do transporte rodoviário, o tráfego de embarcações foi diminuindo,
e a função da ponte foi caindo em desuso, motivo pelo qual foi desmontada e em
seu lugar cravaram uma outra, mais ampla e em cimento armado, inaugurada em
1971, recebendo o nome de Ponte 12 de setembro, data que prestigiava as
reformas ocorridas no porto. Bem! Apesar da boa intenção com o novo nome, não
tinha recifense que o absorvesse, e diante desse fato, a Prefeitura da Cidade
do Recife abriu mão da mudança, cedendo à denominação de Antiga Ponte
Giratória. Vai...abre os braços...e
respira fundo!!!
Huhuhu!!!!
Olha você aqui...já pensou? Viu quanta história o acompanhou? Viu o quanto
esses rios nos estimularam/desafiaram e nos estimulam/desafiam? Dos
questionamentos anseio para que consigamos dar a devida e real importância às
águas doces dos sangrados guerreiros Beberibe e Capibaribe por tempos sem fim.
Olha! Faltam alguns poucos KM, mas daqui até o Forte do Brum, você é a ponte
surpresa para a reta final. Reconstrua-se, reinaugure-se no respirar e em cada
movimento!
Nenhum comentário:
Postar um comentário