Final de ano,
encontro-me distante. Sentidos sem conexão, buscando ao redor energia para
superar a pane em flashes. Numa agitada praça, percorro espaços querendo o
íntimo.
Formatos e
movimentos, novos uns, novamente outros, misturam-se a um guerreiro verde, elevado
por caules em folhas ou rastejante em gramados. Nada, além de mim, está imóvel e
solitário na praça.
Um casal de
idosos caminha de mãos dadas; uma mulher falando ao celular puxa numa coleira
um cachorro ou cadela, nem sei, pois tantos eram os adereços e poucas eram as
partes à mostra; uma pessoa conversando ao celular caminha com outra também ao
celular; duas pessoas juntinhas e sentadas, mas conquistadas por conexões
virtuais; um ciclista envolve a bicicleta com um cadeado; crianças exploram
brinquedos de ferros e madeira e os gritos, risadas e choros testam os sentidos
dos pais e mães; um pequeno grupo define espaço com panos no chão, comidas e
bebidas em caixas e solos de violão; uma pessoa grita por outra; um gato corre
atrás de outro e um cansado cachorro se espreguiça no gramado. Isso tudo já é
saudade. Eu, curto circuito!
Apesar do claro,
o escuro me acompanha nos formatos e movimentos fora de mim. A ansiedade
encurta e acelera os flashes. Pronto! Sou quase nada num turbilhão de interrupções.
O sol recolhe as
cores e parte da lua começa a chamar estrelas. Os formatos e movimentos
continuam, pois não os deixo sair do que ainda tenho como imagem de ação. Novos
uns, novamente outros. Não quero, mas o sentido que me deu origem mudou, e
antes do fechamento da praça, deixo de ser sem despedidas.
Reergui-me junto
com o amanhecer! Sinto-me diferente. Está tudo claro, sem a intromissão do
escuro. Olhei ao redor. Mantive silêncio, mas a praça já era movimento dos
visitantes. Novos uns, novamente outros.
Aproxima-se o
casal de idosos. Caminham e juntos são cúmplices da solidão de possuírem
família que não os têm; o cachorro/cadela que, com repletos adereços, desfila
em quatro patas a agonia do carinho imposto pela dona mãe; conversas infinitas
entre pessoas juntas, mas afastadas por celulares; ciclistas envolvem em cadeados
diversos bicicletas para impedir que outras pessoas as façam sumir; crianças
buscando atenção dos pais e mães em arriscadas brincadeiras; risos e canções de
um grupo em piquenique nem sempre são finalizados com ausência de choros e
violência; gritos nem sempre felizes; animais descansam na praça dos riscos das
ruas. Isso tudo e muito mais para o bem ou para o mal apenas seguem. Eu,
renovado? Por quê?
O ser humano é
uma estrutura mutável e por assim ser o passado se torna provocação do futuro
que o presente planeja, perseguindo o perfeito numa versão presa no insuficiente e/ou decadente.
O homem se
espelha no bem e se desafia no mal, ou será o contrário? O fato é que venho
como solução humana e assim condenado a dar luz num escuro público natural.
Pois então, sou
assim, uma versão renovada e sustentável de mim. Uma cria humana, desligada de
cabos emaranhados, mas fincado no solo, para ser a energia sol de um painel,
doando luz ao que é e ao que será, num ano que não me fez fim, seja para o bem
ou para o mal, conto EU, no meu tempo!
Adriane
Morais
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