terça-feira, 8 de março de 2016

Correndo nas histórias das Pontes do Recife

Há certas corridas que se transformam num verdadeiro xodó para corredores de rua. A corrida das pontes no Recife é uma dessas, e, claro, no percurso completo, com 10 Km, os destaques são sete estruturas erguidas em estilos e épocas diferentes; sete conexões por sobre os rios Capibaribe e Beberibe que transformaram a Mauriceia no Recife, representando símbolos marcantes na história e no crescimento de uma cidade dividida entre o mangue e o sal.
E a primeira ponte a testar os participantes é a Limoeiro. Inaugurada em 1881 para dar passagem a trens, já que o que bombava à época era o transporte ferroviário do açúcar entre o Recife e a cidade de Limoeiro. A estrutura não é a mesma de antes, arquea-se sobre o rio Beberibe, une o bairro do Brum ao de Santo Amaro e a Rua Cais do Apolo à Avenida Norte. Ao passar por esse trecho, sinta a vibração da energia de uma cidade que triunfou da água doce, pois fará toda a diferença. Ah! Aproveita e dá uma paquerada em Olinda.

Simbora para a segunda ponte! Princesa Isabel. Inaugurada em 1863. Diz-se que foi a primeira ponte de ferro da cidade. Em 1913, reconstruída e depois, diante das enchentes do rio Capibaribe, reestruturada, em 1967. Apesar de ser conhecida pelo nome Princesa Isabel, há controvérsias, gerando certa crise de identidade, pois alguns historiadores afirmam ser Santa Isabel e outros, Pedro II. Aqui sua respiração pode ficar abalada, mas mantenha o corpo ereto e suavize o movimento na paisagem.

Em seguida, Ponte Buarque de Macedo, a terceira. Lá nos idos 1882, foi construída em madeira, mas apenas inaugurada em 1890. Em 1922, foi reconstruída em concreto armado para, em 1923, ser reinaugurada. No seu nome, a homenagem a um político e engenheiro pernambucano, Manuel Buarque de Macedo. Dobra-se sobre a junção dos rios Capibaribe e Beberibe, ligando a Avenida Rio Branco à Praça da República. Não sei se as pernas estão identificando, mas essa é a ponte mais extensa da cidade...uuuii!. O cansaço começa a querer chamar mais atenção do que as pontes, né? Deixe não! Não esquece a hidratação, e segue, que tem mais!

Eis que se apresenta a Ponte Maurício de Nassau, a quarta. Lá nos idos 1643, ainda cidade Maurícia, arqueava-se a primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, Ponte do Recife. Com o tempo, várias reformas foram realizadas. Em 1865, a estrutura foi substituída por uma de ferro e o nome foi alterado para Ponte 7 de Setembro. Mas sabe como é...a maresia logo, logo deu por vencido o ferro, deteriorando-a de ponta a ponta. Em 1917, foi reconstruída, agora a base de concreto armado e reinaugurada como Ponte Maurício de Nassau, mantendo-se em forma até hoje. Nos extremos, quatro estátuas de bronze se destacam, duas apontando para o bairro de Santo Antônio, o deus Mercúrio (comércio) e a deusa Themis (Justiça), e duas, para o bairro do Recife Antigo, as deusas Minerva (sabedoria) e Ceres (agricultura). E a poesia também tem seu representante imortalizado, cravado e recostado ao balaústre dos arcos que cercam tal estrutura, numa escultura em concreto armado polido, Joaquim Cardozo, que além de poeta era engenheiro civil, e trabalhou com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Chegou até aqui?! Agora é manter o que pode e seguir com o poeta e com os deuses e deusas, consciente de que sob o impulso dos seus esforços muitos sonhos foram materializados!

A da vez, a quinta, Ponte Duarte Coelho. Construída em 1868, toda em estrutura metálica. Viabilizava o transporte ferroviário, as linhas de bonde a vapor, conhecidas como maxambombas. Lá em 1915, a ponte foi desativada diante do desgaste do tempo e vendida ao ferro velho. Demorou um pouquinho, e em 1943, a ponte ressurge, dessa vez em concreto armado, mantendo a forma até os dias atuais. É considerada uma das pontes mais belas da Cidade, curvada sobre o rio Capibaribe. Liga os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, e a Avenida Conde da Boa Vista à Avenida Guararapes. Uuuiaa! Tá faltando pouco. Solte-se na endorfina e na adrenalina, recrie o Galo da Madrugada nas passadas dos próximos Km. Vai que já deu!

Chegando na Ponte Boa Vista, a sexta. Essa foi a segunda ponte a ser construída na cidade, ainda sob as ordens de Maurício de Nassau, nos idos 1643, em sete semanas e em madeira resistente. O local de origem era diferente do atual, ligando os bairros da Boa Vista ao de Santo Antônio, nos trechos envolvendo onde hoje se encontra o convento do Carmo até a Casa da Cultura. Entre os anos de 1737 a 1746, a ponte foi reconstruída, ainda a base de madeira, assumindo o posicionamento atual, entre a Rua Nova, no bairro de Santo Antônio, e a Rua da Imperatriz, na Boa Vista. Com o tempo e após diversos reparos, em 1815, a estrutura recebeu grades de ferro, calçamento com seixos, trazidos da Ilha de Fernando de Noronha, varandas de cada lado onde foram instalados bancos de madeira que, à época causaram o maior frisson, pois a paquera rolava solta, assim como as fofocas, causos urbanos e poesias. Em 1874, a ponte foi reconstruída, dessa vez toda em ferro batido e os famosos bancos foram excluídos. A inauguração ocorreu em 1876, assumindo um desenho semelhante ao de uma ponte em Paris, a Ponte Nova. Nas pilastras, há inscrições que registram datas e fatos históricos relevantes de Pernambuco e do Brasil, vale a pena conferir. Entre os anos de 1965 e 1966, diante das enchentes do rio Capibaribe, a ponte foi restaurada, em 1967, no que teve a sua estrutura descaracterizada, com passarelas alargadas e os pilares concretados. Ufa!!! Coração a mil, histórias acumuladas no cansaço e nas passadas, rumo à última ponte.

A derradeira, a Ponte Giratória. A sua construção em ferro foi determinada em 1920, diante da modernização do porto do Recife, está arqueada na embocadura dos rios Capibaribe e Beberibe e liga a Avenida Alfredo Lisboa/Cais da Alfândega à Avenida Sul/Cais de Santa Rita. Assumiu um modelo rodo-ferroviário de vão central giratório, a fim de favorecer a passagem das embarcações veleiras e, ao mesmo tempo, permitir o transporte ferroviário que transitava no porto. Foi inaugurada em 1923, e quando a engrenagem lhe dava o giro, abria-se caminho ao transporte marítimo. Antes do movimento ocorrer, soava uma sirene que, apesar de estridente, não foi suficiente, à época, para evitar os vários registros de acidentes...e da ponte caíam carros e caíam caminhões. Bem! Com o crescimento do transporte rodoviário, o tráfego de embarcações foi diminuindo, e a função da ponte foi caindo em desuso, motivo pelo qual foi desmontada e em seu lugar cravaram uma outra, mais ampla e em cimento armado, inaugurada em 1971, recebendo o nome de Ponte 12 de setembro, data que prestigiava as reformas ocorridas no porto. Bem! Apesar da boa intenção com o novo nome, não tinha recifense que o absorvesse, e diante desse fato, a Prefeitura da Cidade do Recife abriu mão da mudança, cedendo à denominação de Antiga Ponte Giratória.  Vai...abre os braços...e respira fundo!!!



Huhuhu!!!! Olha você aqui...já pensou? Viu quanta história o acompanhou? Viu o quanto esses rios nos estimularam/desafiaram e nos estimulam/desafiam? Dos questionamentos anseio para que consigamos dar a devida e real importância às águas doces dos sangrados guerreiros Beberibe e Capibaribe por tempos sem fim. Olha! Faltam alguns poucos KM, mas daqui até o Forte do Brum, você é a ponte surpresa para a reta final. Reconstrua-se, reinaugure-se no respirar e em cada movimento!

quarta-feira, 2 de março de 2016

A NADA MOLE VIDA DO CORREDOR

A história começa com uma tímida decisão de entrar no mundo da prática da corrida de rua. O início não foi fácil. Vencer a respiração ofegante; ativar movimentos que antes não eram tão fortemente exigidos; aguentar as dores musculares; controlar a ansiedade, pois rapidamente se entende que correr não é simplesmente colocar um tênis e sair mexendo as pernas por aí; organizar postura; aceitar que a evolução sempre será diretamente proporcional à dedicação; que cada um possui o próprio ritmo, etc. Com o passar do tempo você descobre que o bem-estar trazido pela repetição da prática vai contaminando a mente e o corpo. A autoestima aumenta, o corpo vai ganhando contornos mais bonitos, os músculos são tonificados, o bom humor se torna mais presente, o raciocínio e a memória são estimulados e os pulmões agradecem, pois ganham na ampliação da capacidade de funcionamento. E a partir desse movimento a louca harmonia entre as dores e as alegrias da atividade da corrida já se torna realidade.

Os treinos vão melhorando a performance. A vontade de correr ganha espaço nos finais de semana e longões convocam o sábado na madrugada, e num desses, um e mais um... corredores e corredoras vão se juntando, idades diversas, experientes e nem tanto, mas cúmplices de uma prova a céu aberto. Mal o rei sol se apresenta no rasgar do dia, o grupo começa o desafio, jogando mente e corpo a cada quilômetro percorrido. A cidade do Recife ganha outros contornos, com olhos mais próximos, e à medida que as paisagens vão se alterando, reações fisiológicas e hormonais atingem os desafiantes. O foco na meta do quilômetro derradeiro, a partir de certo momento, passa a ter as dores, cansaço e/ou esgotamento seguidos pelas liberações de serotonina e endorfina...risos e choros podem ser percebidos ou algum comportamento estonteante de alegria, como, por exemplo, não resistir a cair nos braços do mar...saciada a vontade, volta-se ao asfalto, com um riso salgado, corpo e mente refrescados. Ter a consciência de que a corrida deve ser antes de qualquer coisa uma atividade prazerosa é condição necessária para sua evolução saudável.

A divisão de cena com o mergulho no mar ocorreu num trecho do          bairro de Brasília Teimosa, vizinho a Boa Viagem e ao Pina, na praia   de Buraco da Veia, apelidada assim porque à época morava nas               palafitas uma velha que, por não se conformar com a construção de um muro pelo Iate Clube que impedia o acesso à areia, abriu-lhe um buraco. Bem!! Confusão para lá...confusão para cá...o tal muro foi derrubado e a praia de águas calmas, contornadas por pedras, recebeu o nome da situação.

Daí, eis que se aproxima o atingimento da meta! Nesse momento, corpo e mente se fundem numa força sobrenatural, com adrenalina bombardeando e agitando o caldeirão do cansaço, suor, serotonina, endorfina. Concluí a prova...venci-me em mais um desafio...e como uma onda de boas energias conectadas, corredores e corredoras, conhecidos ou não, absorvem-se de uma emoção que para muitos estará presente por corridas e corridas a fio!!!!