quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Deixe pra chorar após o fim do mundo!

 

                                        

Enquanto isso, no País Brasil um militar fracassado conseguiu votos dos cidadãos que se intitulavam ou se intitulam (nem sei) “de bem” e “anti-qualquercoisacontrária”, “dos que se anularam”, “dos que assumiram uma dúvida eterna” e “dos que pensaram ou pensam que qualquer coisa é a mesma coisa” para se tornar presidente da nação tupiniquim verde e amarelo, cores adotadas lá na Proclamação da Independência do Brasil, em 1822. Uma independência fake (de mentirinha, coisa normal desde sempre por aqui), pois apenas foi reconhecida por Portugal e outras Nações em 1825. O verde representa a Casa de Bragança, de dom Pedro 1º, de Portugal, e o amarelo representa a Casa de Habsburgo, de Maria Leopoldina, da Áustria. As florestas e o ouro foram criação de uma lorota poética passada adiante. Assim, democraticamente, após um parto executado com uma facada de borracha, o Brasil das casas verde e amarela, florestas dizimadas e ouro para adornos de corruptos e corruptores assenta nos poderes o presidente eleito e sua trupe. Foi (e continua) uma farra! Digna de uma nação de casas e grupos diversos.

Capítulo Educação:



Ricardo Vélez Rodríguez, primeiro ministro assentado na pasta da Educação, cujo nome foi sugerido por Olavo de Carvalho (quem é? Por favor, pesquisem, pois as linhas a seguir já são indigestas demais). Colombiano, diz-se filósofo, ensaísta, teólogo e professor colombiano naturalizado brasileiro. No Brasil, foi professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e lecionou em universidades da França, Estados Unidos e Colômbia. Professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, responsável pela formação de oficiais de alta patente (imagina!). Na política, foi ministro da Educação, de 1º de janeiro a 8 abril de 2019. Saiu porque acumulou problemas diversos na pasta, dái, foi substituído por Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub.

Abraham Weintraub se graduou em ciências econômicas pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA Executivo Internacional e mestrado em administração (área de finanças) na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi professor da Universidade Federal de São Paulo (Pense!).

Executivo do mercado financeiro com mais de vinte anos de experiência, atuou como economista-chefe e diretor do Banco Votorantim e como sócio na Quest Investimentos. Foi integrante da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro.

Após a demissão do Ricardo Vélez, o presiBrasil comunica a indicação do Professor Abraham Weintraub ao cargo de Ministro da Educação, utilizando as seguintes palavras: Abraham é doutor professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta. Aproveito para agradecer ao prof. Velez pelos serviços prestados.

E assim foi o que nunca deveria ter sido. Propostas para reforma do ensino médio classificada como insatisfatória pelo Banco Mundial; críticas de personalidades do segmento ao tal ministro como “sem educação, grosso, horrendo, nojento”; cortes no orçamento das universidades federais (doutor professor??); propostas para os alunos filmarem os professores em sala de aula sem autorização; ofensas do tipo “sem caráter e calhorda” ao presidente da França, Emmanuel Macron; ofensas a Lula e a Dilma no episódio ainda não esclarecido do militar que transportou drogas num avião da comitiva do tal presiBrasil; veio a público o desprezível desempenho do tal doutor professor no curso de economia; confusões em universidades após os cortes orçamentários executados pelo tal ministro; erros gramaticais e ortográficos; conflitos com a imprensa; falhas desastrosas no ENEM; ataques racistas aos povos indígenas; ataques racistas à China e ataques ao STF (o supremo da máxima justiça acertada).

Em 18 de junho de 2020, Weintraub anunciou sua saída do Ministério da Educação, em meio a uma investigação da polícia federal do Brasil, e numa possível fuga das responsabilidades com a justiça. A exoneração ocorreu enquanto o ministro estava em solo estadunidense. Após a saída do MEC, Weintraub foi indicado para trabalhar na diretoria do Banco Mundial. Passa bem!

Carlos Alberto Decotelli da Silva se diz um economista e professor brasileiro. Foi nomeado ministro da Educação do Brasil, em 25 de junho de 2020, mas cinco dias depois renunciou antes de assumir o cargo, em virtude de uma série de controvérsias em relação à titulação acadêmica informada em seu currículo, não chegando a tomar posse. Vários foram os memes com o selo Decotelli do Fake educativo. No currículo do Decotelli não se sabia o que era real!

Em 16 de julho de 2020, Chega um pastor ao Ministério da Educação, jesus! Milton Ribeiro é um pastor presbiteriano, teólogo, advogado e professor brasileiro. Até agora, segue com a fé que o trouxe ao poder, expondo ideias de reprovação ao homossexualismo; é a favor da censura em programas de televisão; e assumiu a benção de um deus ao defender que não é  ou será abençoada a vida sexual plena fora do casamento (putz!!) Ah! e a educação? Em meio à pandemia e aos shows de desinteresse e desorganização do governo para aquisição das possíveis vacinas, o tal ministro presbiteriano ainda não sabe se liberará o ensino superior em janeiro de 2021.

 

... a seguir, Capítulo Saúde.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Resíduos

Cartuxa - personagem principal
Nascido em Portugal, no ano de 2005, vermelho escuro, ficou armazenado por 5 anos, mantendo-se curioso, criativo, falante e espontâneo, aroma enlouquecedor. Quando conseguiu respirar, entregou-se ao seu destino, apesar dos resíduos.
RESÍDUOS
Dezessete graus centígrados...é a temperatura revelada num termômetro próximo ao meu guardião...que por 5 anos me envolve, com seu corpo reto e ombros bem definidos, cuja transparência de sua textura me permite observar o lugar em que vivo.
Um quarto compacto, com controle da umidade, cheio de prateleiras de madeira pura, criteriosamente distribuídas no espaço, com cortes arredondados, cujos formatos eram de encaixe perfeito para as dezenas de guardiões se deitarem e assim permanecerem imóveis, condenando à mesma situação os seus envolvidos.
Tais guardiões possuíam na ponta de seu pescoço um tampão esquisito, chamado rolha, difícil de remover. Perdi as contas das tentativas de diálogo para que me deixasse sair...ufa! e os empurrões...nada acontecia! Agora, curioso mesmo era uma espécie de caroço que o guardião possuía no fundo. Para que serve? Qual a utilidade? Que curiosidade?
Crrrrrrrrr!!! Eita! alguém está entrando. É o proprietário do lugar. Um senhor alto, esguio, cabelos brancos, sério, olhar arregalado.  Há um tempo ouvi alguém chamá-lo por Orlando. Era nessas ocasiões que o silêncio do lugar era quebrado.
Orlando nos observava, e num ritual de espantar se aproximava das prateleiras...retirava alguns guardiões do lugar, erguendo-os a uma certa altura...depois lia as mensagens grudadas em seus corpos, os rótulos, que traziam informações nossas, os envolvidos, ou como nos costumam chamar, vinho. Em seguida, sumia com o escolhido.
Sobre mim, o verso do rótulo revela que sou de Portugal, uma mistura de três uvas, cor vermelho escuro, teor alcoólico de 14%, o que quer dizer que sou curioso, criativo, falante, espontâneo e com muita ciência do sex appeal, além do meu nome. Chamo-me Cartuxa, nascido em 2005.
Epa! Orlando se aproxima de mim! Será que é a minha vez!!!  Será que, finalmente, sairei daqui? Vejo mãos ao redor do meu guardião...como é bom experimentar outras posições além da horizontal...o meu rótulo...Orlando está lendo minhas informações...sou Cartuxa...nasci em 2005...não aguento mais ficar por aqui...curioso, criativo, falante, espontâneo e ciente do sex appeal...desespero-me: ELE ME ESCOLHEU! ELE ME ESCOLHEU! VOU SAIR! VOU SAIR!
Não quero perder um detalhe! Quanta curiosidade, mas uma insiste em me comandar: para que serve aquele caroço no fundo dos guardiões. Ahhh!! lentamente, seguros pelas mãos do Orlando, observo ficar para trás o lugar em que vivi. Adeus prateleiras, adeus baratas, aranhas...chegou a minha vez. Uma porta se fecha atrás de nós. Abre-se um outro mundo!
Que lugar claro! Que lugar colorido! Que lugar diferente! Orlando nos coloca numa mesa bem preparada. Uma outra pessoa coloca junto ao meu guardião uns copos esquisitos, com pés altos e finos e bocas grandes.
Duas visitas se sentam junto à mesa. Orlando traz um metal esquisito, pega o meu guardião entre as mãos, aperta-lhe o pescoço e encaixa o esquisito metal no gargalo. Aos poucos a rolha que por tanto tempo me prendeu vai saindo. Ufa!! eu não acreditava. Enfim, livre!!!!
Fiquei tão, mas tão feliz que contaminei todo o lugar com meu aroma, só de um sopro, um sopro de alívio, um sopro de liberdade, um sopro só por respirar.
Ah! Os olhares de encanto de Orlando e de suas visitas me embalam. Sigo respirando, respirando...de repente vou me desgrudando de meu guardião. Divido-me entre os tais estranhos copos. Naquele momento, senti-me pleno ao ser conduzido pelo destino, e no compasso de risos e conversas, deleito-me em mergulhos no corpo humano.
Ah!!! E numa espécie de rompante, volta a curiosidade: para que serve aquele caroço no fundo dos guardiões? Dentre as várias informações, uma me chamou atenção: acúmulo dos resíduos. Resíduos. Resíduos do que antes eu fui...
Adriane Morais

CONTO EU, NO MEU TEMPO!



Final de ano, encontro-me distante. Sentidos sem conexão, buscando ao redor energia para superar a pane em flashes. Numa agitada praça, percorro espaços querendo o íntimo.
Formatos e movimentos, novos uns, novamente outros, misturam-se a um guerreiro verde, elevado por caules em folhas ou rastejante em gramados. Nada, além de mim, está imóvel e solitário na praça.
Um casal de idosos caminha de mãos dadas; uma mulher falando ao celular puxa numa coleira um cachorro ou cadela, nem sei, pois tantos eram os adereços e poucas eram as partes à mostra; uma pessoa conversando ao celular caminha com outra também ao celular; duas pessoas juntinhas e sentadas, mas conquistadas por conexões virtuais; um ciclista envolve a bicicleta com um cadeado; crianças exploram brinquedos de ferros e madeira e os gritos, risadas e choros testam os sentidos dos pais e mães; um pequeno grupo define espaço com panos no chão, comidas e bebidas em caixas e solos de violão; uma pessoa grita por outra; um gato corre atrás de outro e um cansado cachorro se espreguiça no gramado. Isso tudo já é saudade. Eu, curto circuito!
Apesar do claro, o escuro me acompanha nos formatos e movimentos fora de mim. A ansiedade encurta e acelera os flashes. Pronto! Sou quase nada num turbilhão de interrupções.
O sol recolhe as cores e parte da lua começa a chamar estrelas. Os formatos e movimentos continuam, pois não os deixo sair do que ainda tenho como imagem de ação. Novos uns, novamente outros. Não quero, mas o sentido que me deu origem mudou, e antes do fechamento da praça, deixo de ser sem despedidas.
Reergui-me junto com o amanhecer! Sinto-me diferente. Está tudo claro, sem a intromissão do escuro. Olhei ao redor. Mantive silêncio, mas a praça já era movimento dos visitantes. Novos uns, novamente outros.
Aproxima-se o casal de idosos. Caminham e juntos são cúmplices da solidão de possuírem família que não os têm; o cachorro/cadela que, com repletos adereços, desfila em quatro patas a agonia do carinho imposto pela dona mãe; conversas infinitas entre pessoas juntas, mas afastadas por celulares; ciclistas envolvem em cadeados diversos bicicletas para impedir que outras pessoas as façam sumir; crianças buscando atenção dos pais e mães em arriscadas brincadeiras; risos e canções de um grupo em piquenique nem sempre são finalizados com ausência de choros e violência; gritos nem sempre felizes; animais descansam na praça dos riscos das ruas. Isso tudo e muito mais para o bem ou para o mal apenas seguem. Eu, renovado? Por quê?
O ser humano é uma estrutura mutável e por assim ser o passado se torna provocação do futuro que o presente planeja, perseguindo o perfeito numa versão presa no insuficiente e/ou decadente.
O homem se espelha no bem e se desafia no mal, ou será o contrário? O fato é que venho como solução humana e assim condenado a dar luz num escuro público natural.  
Pois então, sou assim, uma versão renovada e sustentável de mim. Uma cria humana, desligada de cabos emaranhados, mas fincado no solo, para ser a energia sol de um painel, doando luz ao que é e ao que será, num ano que não me fez fim, seja para o bem ou para o mal, conto EU, no meu tempo!

Adriane Morais

terça-feira, 8 de março de 2016

Correndo nas histórias das Pontes do Recife

Há certas corridas que se transformam num verdadeiro xodó para corredores de rua. A corrida das pontes no Recife é uma dessas, e, claro, no percurso completo, com 10 Km, os destaques são sete estruturas erguidas em estilos e épocas diferentes; sete conexões por sobre os rios Capibaribe e Beberibe que transformaram a Mauriceia no Recife, representando símbolos marcantes na história e no crescimento de uma cidade dividida entre o mangue e o sal.
E a primeira ponte a testar os participantes é a Limoeiro. Inaugurada em 1881 para dar passagem a trens, já que o que bombava à época era o transporte ferroviário do açúcar entre o Recife e a cidade de Limoeiro. A estrutura não é a mesma de antes, arquea-se sobre o rio Beberibe, une o bairro do Brum ao de Santo Amaro e a Rua Cais do Apolo à Avenida Norte. Ao passar por esse trecho, sinta a vibração da energia de uma cidade que triunfou da água doce, pois fará toda a diferença. Ah! Aproveita e dá uma paquerada em Olinda.

Simbora para a segunda ponte! Princesa Isabel. Inaugurada em 1863. Diz-se que foi a primeira ponte de ferro da cidade. Em 1913, reconstruída e depois, diante das enchentes do rio Capibaribe, reestruturada, em 1967. Apesar de ser conhecida pelo nome Princesa Isabel, há controvérsias, gerando certa crise de identidade, pois alguns historiadores afirmam ser Santa Isabel e outros, Pedro II. Aqui sua respiração pode ficar abalada, mas mantenha o corpo ereto e suavize o movimento na paisagem.

Em seguida, Ponte Buarque de Macedo, a terceira. Lá nos idos 1882, foi construída em madeira, mas apenas inaugurada em 1890. Em 1922, foi reconstruída em concreto armado para, em 1923, ser reinaugurada. No seu nome, a homenagem a um político e engenheiro pernambucano, Manuel Buarque de Macedo. Dobra-se sobre a junção dos rios Capibaribe e Beberibe, ligando a Avenida Rio Branco à Praça da República. Não sei se as pernas estão identificando, mas essa é a ponte mais extensa da cidade...uuuii!. O cansaço começa a querer chamar mais atenção do que as pontes, né? Deixe não! Não esquece a hidratação, e segue, que tem mais!

Eis que se apresenta a Ponte Maurício de Nassau, a quarta. Lá nos idos 1643, ainda cidade Maurícia, arqueava-se a primeira ponte de madeira sobre o rio Capibaribe, Ponte do Recife. Com o tempo, várias reformas foram realizadas. Em 1865, a estrutura foi substituída por uma de ferro e o nome foi alterado para Ponte 7 de Setembro. Mas sabe como é...a maresia logo, logo deu por vencido o ferro, deteriorando-a de ponta a ponta. Em 1917, foi reconstruída, agora a base de concreto armado e reinaugurada como Ponte Maurício de Nassau, mantendo-se em forma até hoje. Nos extremos, quatro estátuas de bronze se destacam, duas apontando para o bairro de Santo Antônio, o deus Mercúrio (comércio) e a deusa Themis (Justiça), e duas, para o bairro do Recife Antigo, as deusas Minerva (sabedoria) e Ceres (agricultura). E a poesia também tem seu representante imortalizado, cravado e recostado ao balaústre dos arcos que cercam tal estrutura, numa escultura em concreto armado polido, Joaquim Cardozo, que além de poeta era engenheiro civil, e trabalhou com Oscar Niemeyer em importantes construções de Brasília. Chegou até aqui?! Agora é manter o que pode e seguir com o poeta e com os deuses e deusas, consciente de que sob o impulso dos seus esforços muitos sonhos foram materializados!

A da vez, a quinta, Ponte Duarte Coelho. Construída em 1868, toda em estrutura metálica. Viabilizava o transporte ferroviário, as linhas de bonde a vapor, conhecidas como maxambombas. Lá em 1915, a ponte foi desativada diante do desgaste do tempo e vendida ao ferro velho. Demorou um pouquinho, e em 1943, a ponte ressurge, dessa vez em concreto armado, mantendo a forma até os dias atuais. É considerada uma das pontes mais belas da Cidade, curvada sobre o rio Capibaribe. Liga os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, e a Avenida Conde da Boa Vista à Avenida Guararapes. Uuuiaa! Tá faltando pouco. Solte-se na endorfina e na adrenalina, recrie o Galo da Madrugada nas passadas dos próximos Km. Vai que já deu!

Chegando na Ponte Boa Vista, a sexta. Essa foi a segunda ponte a ser construída na cidade, ainda sob as ordens de Maurício de Nassau, nos idos 1643, em sete semanas e em madeira resistente. O local de origem era diferente do atual, ligando os bairros da Boa Vista ao de Santo Antônio, nos trechos envolvendo onde hoje se encontra o convento do Carmo até a Casa da Cultura. Entre os anos de 1737 a 1746, a ponte foi reconstruída, ainda a base de madeira, assumindo o posicionamento atual, entre a Rua Nova, no bairro de Santo Antônio, e a Rua da Imperatriz, na Boa Vista. Com o tempo e após diversos reparos, em 1815, a estrutura recebeu grades de ferro, calçamento com seixos, trazidos da Ilha de Fernando de Noronha, varandas de cada lado onde foram instalados bancos de madeira que, à época causaram o maior frisson, pois a paquera rolava solta, assim como as fofocas, causos urbanos e poesias. Em 1874, a ponte foi reconstruída, dessa vez toda em ferro batido e os famosos bancos foram excluídos. A inauguração ocorreu em 1876, assumindo um desenho semelhante ao de uma ponte em Paris, a Ponte Nova. Nas pilastras, há inscrições que registram datas e fatos históricos relevantes de Pernambuco e do Brasil, vale a pena conferir. Entre os anos de 1965 e 1966, diante das enchentes do rio Capibaribe, a ponte foi restaurada, em 1967, no que teve a sua estrutura descaracterizada, com passarelas alargadas e os pilares concretados. Ufa!!! Coração a mil, histórias acumuladas no cansaço e nas passadas, rumo à última ponte.

A derradeira, a Ponte Giratória. A sua construção em ferro foi determinada em 1920, diante da modernização do porto do Recife, está arqueada na embocadura dos rios Capibaribe e Beberibe e liga a Avenida Alfredo Lisboa/Cais da Alfândega à Avenida Sul/Cais de Santa Rita. Assumiu um modelo rodo-ferroviário de vão central giratório, a fim de favorecer a passagem das embarcações veleiras e, ao mesmo tempo, permitir o transporte ferroviário que transitava no porto. Foi inaugurada em 1923, e quando a engrenagem lhe dava o giro, abria-se caminho ao transporte marítimo. Antes do movimento ocorrer, soava uma sirene que, apesar de estridente, não foi suficiente, à época, para evitar os vários registros de acidentes...e da ponte caíam carros e caíam caminhões. Bem! Com o crescimento do transporte rodoviário, o tráfego de embarcações foi diminuindo, e a função da ponte foi caindo em desuso, motivo pelo qual foi desmontada e em seu lugar cravaram uma outra, mais ampla e em cimento armado, inaugurada em 1971, recebendo o nome de Ponte 12 de setembro, data que prestigiava as reformas ocorridas no porto. Bem! Apesar da boa intenção com o novo nome, não tinha recifense que o absorvesse, e diante desse fato, a Prefeitura da Cidade do Recife abriu mão da mudança, cedendo à denominação de Antiga Ponte Giratória.  Vai...abre os braços...e respira fundo!!!



Huhuhu!!!! Olha você aqui...já pensou? Viu quanta história o acompanhou? Viu o quanto esses rios nos estimularam/desafiaram e nos estimulam/desafiam? Dos questionamentos anseio para que consigamos dar a devida e real importância às águas doces dos sangrados guerreiros Beberibe e Capibaribe por tempos sem fim. Olha! Faltam alguns poucos KM, mas daqui até o Forte do Brum, você é a ponte surpresa para a reta final. Reconstrua-se, reinaugure-se no respirar e em cada movimento!

quarta-feira, 2 de março de 2016

A NADA MOLE VIDA DO CORREDOR

A história começa com uma tímida decisão de entrar no mundo da prática da corrida de rua. O início não foi fácil. Vencer a respiração ofegante; ativar movimentos que antes não eram tão fortemente exigidos; aguentar as dores musculares; controlar a ansiedade, pois rapidamente se entende que correr não é simplesmente colocar um tênis e sair mexendo as pernas por aí; organizar postura; aceitar que a evolução sempre será diretamente proporcional à dedicação; que cada um possui o próprio ritmo, etc. Com o passar do tempo você descobre que o bem-estar trazido pela repetição da prática vai contaminando a mente e o corpo. A autoestima aumenta, o corpo vai ganhando contornos mais bonitos, os músculos são tonificados, o bom humor se torna mais presente, o raciocínio e a memória são estimulados e os pulmões agradecem, pois ganham na ampliação da capacidade de funcionamento. E a partir desse movimento a louca harmonia entre as dores e as alegrias da atividade da corrida já se torna realidade.

Os treinos vão melhorando a performance. A vontade de correr ganha espaço nos finais de semana e longões convocam o sábado na madrugada, e num desses, um e mais um... corredores e corredoras vão se juntando, idades diversas, experientes e nem tanto, mas cúmplices de uma prova a céu aberto. Mal o rei sol se apresenta no rasgar do dia, o grupo começa o desafio, jogando mente e corpo a cada quilômetro percorrido. A cidade do Recife ganha outros contornos, com olhos mais próximos, e à medida que as paisagens vão se alterando, reações fisiológicas e hormonais atingem os desafiantes. O foco na meta do quilômetro derradeiro, a partir de certo momento, passa a ter as dores, cansaço e/ou esgotamento seguidos pelas liberações de serotonina e endorfina...risos e choros podem ser percebidos ou algum comportamento estonteante de alegria, como, por exemplo, não resistir a cair nos braços do mar...saciada a vontade, volta-se ao asfalto, com um riso salgado, corpo e mente refrescados. Ter a consciência de que a corrida deve ser antes de qualquer coisa uma atividade prazerosa é condição necessária para sua evolução saudável.

A divisão de cena com o mergulho no mar ocorreu num trecho do          bairro de Brasília Teimosa, vizinho a Boa Viagem e ao Pina, na praia   de Buraco da Veia, apelidada assim porque à época morava nas               palafitas uma velha que, por não se conformar com a construção de um muro pelo Iate Clube que impedia o acesso à areia, abriu-lhe um buraco. Bem!! Confusão para lá...confusão para cá...o tal muro foi derrubado e a praia de águas calmas, contornadas por pedras, recebeu o nome da situação.

Daí, eis que se aproxima o atingimento da meta! Nesse momento, corpo e mente se fundem numa força sobrenatural, com adrenalina bombardeando e agitando o caldeirão do cansaço, suor, serotonina, endorfina. Concluí a prova...venci-me em mais um desafio...e como uma onda de boas energias conectadas, corredores e corredoras, conhecidos ou não, absorvem-se de uma emoção que para muitos estará presente por corridas e corridas a fio!!!! 





quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Tropeços do breve




Caminho nas entonações e simbolizo as pausas forçadas e as acidentais. O meu mundo é o exercício desafiante do comunicar. Não é uma tarefa fácil e com frequência atraio controvérsia! Às vezes, tenho que separar, isolar, suprimir, modificar significados e até chamar atenção, sem delongas, mas com uma brevidade que faça sentido, afinal no embaralhado de palavras, contorno sentimentos, ideias e pensamentos.
Quando convocada, tenho que conhecer e entender o conteúdo, pois me responsabilizo por dar fluência ao que se escreve. Divirto-me nas alegrias, choro nas tristezas e me aborreço nas situações equivocadas. Ser Pausa é compreender o relutar, nas curtas durações!
Entretanto, há momentos em que assumo descontroles e sigo patinando nas palavras sem encontrar encaixe, e em outros, faço-me repetidamente presente, picotando sentidos, cansando o desnecessário. Ser pausa nem sempre se traduz simples, apesar das curtas durações!
E talvez por ser assim, a criadora gramática dos homens me tenha desenhado com essa pequena, mas contorcida forma, para passear nos textos discretamente, entretanto sem esquecer a delícia e a dor de um sinal gráfico bem decidido na composição de imaginações, sonhos, ações, reações, opções, poesias, discursos, músicas, questionamentos, em fim de vírgulas para sempre durar.

sábado, 11 de julho de 2015

Sim versus Não









Na viagem inquieta do entender
abraçar o erro inicia condição
um passo após não se render
espera-se por mais razão
a mente se expande em ser
rasgando trilhas para o sim do não
Confrontam-se ver e enxergar
cruzando superficial e intuição
para as possibilidades, ousar
nos sentimentos, opção
guiando sem querer chegar
o difícil diálogo entre o sim e o não 
E se a viagem cambaleia seguir
coração pulsa talvez...decepção
nas razões confusas, o persistir
traídos porquês na solidão
impulsos enfim para existir
na liberdade desejada do sim, o não 
Do passado, o agora puxa reverter
e o futuro para a viagem segue sem fim
entender desafia a vontade de querer
ser mais que o possível de mim
recriando histórias do amadurecer
nas desafiadoras escolhas do não no sim.

domingo, 9 de junho de 2013

Pedra que Vidas Rolam



Um dia como os demais. Sol de torrar o quengo. A terra desafiando sobrevivência. Água? Nem em lágrimas!
Romi, abreviatura do nome Romelenilson, resultado de diversas fusões de nomes admirados pelos pais, acorda com os sopros de ventos numa vegetação para lá de esturricada. O magrelo menino de 11 anos, de cabelos sujos, acomodados e grudados na cabeça, pelas limitações de água, enxerga do espaço que deveria ser ocupado por uma porta, a sua mãe fazer mágicas para preencher as poucas panelas sobre um fogão, que de tão remendado, as chamas só aconteciam por causa da junção do bafo de calor da terra, com a faísca do fósforo. Nesse particular, Romi já sabia de algumas histórias: mortes no alto sertão pernambucano envolvendo alguns sertanejos afeiçoados à pinga, cujos retumbantes arrotos, quando misturados ao bafo da terra, transformavam-se em vestígios de carne seca a adubar o solo pedregoso.
 - Romelenilson, cadê teu afazê? Uma voz vinda detrás de uma das paredes rebocadas por barro, sustentadas por madeira e endurecida pelo contato com um solo que torra qualquer pensamento, devolve-lhe à sua rotina diária. Romi se despede de sua mãe, Antonia, e segue estrada afora, a caminho da escola.
A paisagem do caminho, Romi vai inventando. Faz o bonito do feio, pois, na sua mente, colore o cinza da seca, característica que lhe faz dono de uma imaginação abundante, cujas confusões enfrentadas por ele não são poucas, já que nem sempre descarta o imaginário, tornando-o fato concreto e presente.
Pois bem! Quase chegando à escola, Romi vê uma pedra diferente e interessante. Cheia de cores. E no retorno à terra cinza, aquela pedra se destacava. Rapidamente Romi a resgata e a passa em sua roupa, a fim de deixá-la bem limpinha, e a guarda no bolso da calça.
Na sala de aula, a professora lhe chama a atenção! Novamente atrasado, Romi? Qual é a sua história de hoje?
- Professora, pra hoje num tem nada não. A barriga ainda ronca, deixando a mente sem solução. Acho que minha agonia tá tanta, que algum anjo me jogou um presente.
E em seguida, Romi saca do bolso a tal pedra reluzente. Na sala de aula, todos ficam curiosos. Até que alguém troca as repetidas exclamações, pela seguinte questão:
- Romi, esse presente dá comida? Faz chover? Dá dinheiro?
Rapidamente, Romi responde:
- Ainda num sei, mas que a bicha é bunita demais pra ser pedra, vixe, isso é!
A professora retoma a aula. Todos voltam ao seu lugar. Quanto a Romi, com a pedra sobre a banca, não para de divagar. Hora do intervalo. A merenda é a de sempre: uma sopa, cujos ingredientes desafiam a compreensão de que possa haver algum sabor. Num cantinho, rodeado por outras crianças, Romi afirma que, quem olhar para a pedra com fé, sentirá o sabor do mais arretado feijão com charque e jerimum. Expõe a pedra sobre a mesa. Todos a fixam e, imediatamente, colocam uma colherada de sopa na boca. Não demora muito e os comentários, entre tosses e risadas, começam a sair.
- Rapaz! A sopa piorou. A buniteza da pedra não funcionou.
Todos começam a mangar de Romi. Chateado, levanta-se e vai comer em outro lugar. Até o final do dia escolar, Romi não fala mais sobre a pedra colorida.
No caminho de volta para casa, com a pedra resolve dialogar, perguntando sobre o porquê das cores, num lugar em que cores não há. E assim sem nenhuma explicação, a pedra começa a esquentar. Assustado, Romi solta a pedra. Olhando de longe, resolve retrucar.
-  Afff! Se tanta buniteza é só pra mais sol chamar, por favor, sua pedra, volte pro seu lugar.
A pedra começa a brilhar! Romi não sabe se corre, ou se continua a olhar... e a pedra continua a brilhar. Romi chega mais perto e num movimento brusco a aperta em sua mão:
- Ô sua pedra, pra que serve sua buniteza? Veja, aqui não há serventia, a num sê que faça a terra melhorar o dia e a noite um momento de alegria.
E no aperto da mão de Romi, a pedra o transporta para outro lugar!
- Affff, sua pedra, não precisava exagerar. Onde tô? Pra que lado caminhar? Tô vendo tanta coisa, tanta gente, cadê mainha? Cadê painho?
Romi solta a pedra e no cinza volta a se encontrar.
- Ahh! É assim... gosta é de um acocho, né?
E a pedra Romi volta a apertar e novamente se vê em outro lugar. Nos objetos, Romi tenta tocar, mas nada era real, apenas desapareciam como fumaça, surgindo outra coisa... Ah! Pedra cheia de graça!
Repentinamente, Romi vê umas pessoas que, com olhos arregalados, ele diz reconhecer. Ele pula para ser visto e apertando mais ainda a pedra, exclama:
- Mainha? Painho? Tô aqui óia! E na proximidade exagerada, como quem parte para um abraço, Romi acaba com o vento nos braços. - Vixe! Pera aí sua pedra...deixa eu pegar neles! A imagem dos pais retorna, mas Romi percebe nos pais, que a pedra lhes deu alguns anos a mais.
- Pedra, deixa de brincadeira, já é muito o engilhamento da pele por causa do sol de lascar, tu inda vem colocar cabelos brancos nos meus pais pra piorar?
Romi, sabendo que não poderia pegar nas imagens, fica só a observar.
 - Vixe! Num é que apesar dos cabelos brancos, mainha e painho tão arrumados? Que roupa chique! Afff! A casa tá diferente. Sua pedra, eu até comecei a gostar do que a senhora traz pra gente!
Mais adiante, um cabra aproxima-se dos pais de Romi. Aparentava uns vinte anos ou um pouquinho mais, e num sobressalto, Romi exclama:
 - Rapaz! Num tô acreditando, mas num é que sou eu? Cheinho e crescidinho. Segue sua pedra, mostra mais eu. Ixe! Olha o cabelo, nem parece! Todo arrumado... menino! Acho que essa pedra tá mostrando que milagre acontece!
E as imagens seguem mudando. Eita! Mainha e painho tão me chamando de dotor Romelenilson. Aqui tenho uma reclamação: sua pedra, bem que podia dá uma mexidinha no meu nome. Sei lá, uma coisa menos infeitada... mior não! Deixa pra lá, né? Acho que mainha pode não gostar. Ixe! Só de me vê dotor, deu até vontade de gritar!
As imagens se alteram mais e Romi percebe que a terra em que moravam também estava diferente.  Eita! Pia só quanto verde! E as vaquinhas? Noooosssaaa, um bando de vacão! Sua pedra, desse jeito dessa mentira num quero sair mais não. A pedra esquenta, Romi a solta no chão e para o cinza, como num passe de mágica, a realidade se apresenta. Ixe! Ficou arretada foi? Fique não... né sua mentira não, agora fica fria e deixa eu ter mais emoção.
Romi volta a pegar a pedra e percebe que o seu colorido está desaparecendo. Eita sua pedra, já pedi desculpas, fica feia não. Romi passa a pedra na roupa e vê que as cores da pedra no cinza estão. Afff! Que é isso? Romi mexe a pedra de todo jeito, mas para o colorido nada feito.
No desencadear dos acontecimentos, Romi, hora após hora, dia após dia, ano após ano, tentou do cinza da pedra trazer o colorido nos tempos, entretanto a pedra não se alterava e as imagens de antes só ficaram marcadas em seus pensamentos. Assim, num movimento raivoso, Romi arremessou a tal pedra para bem distante, para que ela se juntasse às outras naquele solo secamente pedregoso. Continuando no tempo, Romi atinge a maioridade e para cidade grande, o destino lhe encaminhou e nos estudos sobre as riquezas da terra ele se dedicou. E assim, engenheiro agrônomo doutor se tornou.
Eita! Num é que é o Dotor Romelenilson! Ao retornar a sua casa e reencontrar seus pais, recordou que quando criança, certa pedra colorida, essa imagem lhe revelou. Os cabelos brancos dos pais, a casa aconchegante, porém o cinza da terra pouco se alterou. Com lágrimas nos olhos, entendeu a mensagem daquela mágica pedra que no seu caminho se intrometeu: o abandono das terras cinza pelos homens, cujos motivos são os mais diversos, para o colorido do interesse de outros homens em fazê-las promissoras. Romi fala alto: - Ah! foi para isso que o futuro me antecipou. Para trazer cores às terras, que o cinza sozinho se apoderou. 
 - Quer saber da mágica pedra? Ela tá bem aí, tá vendo não? Aff! Se não imaginar, tem jeito não.


Adriane Morais