quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Deixe pra chorar após o fim do mundo!

 

                                        

Enquanto isso, no País Brasil um militar fracassado conseguiu votos dos cidadãos que se intitulavam ou se intitulam (nem sei) “de bem” e “anti-qualquercoisacontrária”, “dos que se anularam”, “dos que assumiram uma dúvida eterna” e “dos que pensaram ou pensam que qualquer coisa é a mesma coisa” para se tornar presidente da nação tupiniquim verde e amarelo, cores adotadas lá na Proclamação da Independência do Brasil, em 1822. Uma independência fake (de mentirinha, coisa normal desde sempre por aqui), pois apenas foi reconhecida por Portugal e outras Nações em 1825. O verde representa a Casa de Bragança, de dom Pedro 1º, de Portugal, e o amarelo representa a Casa de Habsburgo, de Maria Leopoldina, da Áustria. As florestas e o ouro foram criação de uma lorota poética passada adiante. Assim, democraticamente, após um parto executado com uma facada de borracha, o Brasil das casas verde e amarela, florestas dizimadas e ouro para adornos de corruptos e corruptores assenta nos poderes o presidente eleito e sua trupe. Foi (e continua) uma farra! Digna de uma nação de casas e grupos diversos.

Capítulo Educação:



Ricardo Vélez Rodríguez, primeiro ministro assentado na pasta da Educação, cujo nome foi sugerido por Olavo de Carvalho (quem é? Por favor, pesquisem, pois as linhas a seguir já são indigestas demais). Colombiano, diz-se filósofo, ensaísta, teólogo e professor colombiano naturalizado brasileiro. No Brasil, foi professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e lecionou em universidades da França, Estados Unidos e Colômbia. Professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, responsável pela formação de oficiais de alta patente (imagina!). Na política, foi ministro da Educação, de 1º de janeiro a 8 abril de 2019. Saiu porque acumulou problemas diversos na pasta, dái, foi substituído por Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub.

Abraham Weintraub se graduou em ciências econômicas pela Universidade de São Paulo (USP), com MBA Executivo Internacional e mestrado em administração (área de finanças) na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi professor da Universidade Federal de São Paulo (Pense!).

Executivo do mercado financeiro com mais de vinte anos de experiência, atuou como economista-chefe e diretor do Banco Votorantim e como sócio na Quest Investimentos. Foi integrante da equipe de transição do governo Jair Bolsonaro.

Após a demissão do Ricardo Vélez, o presiBrasil comunica a indicação do Professor Abraham Weintraub ao cargo de Ministro da Educação, utilizando as seguintes palavras: Abraham é doutor professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta. Aproveito para agradecer ao prof. Velez pelos serviços prestados.

E assim foi o que nunca deveria ter sido. Propostas para reforma do ensino médio classificada como insatisfatória pelo Banco Mundial; críticas de personalidades do segmento ao tal ministro como “sem educação, grosso, horrendo, nojento”; cortes no orçamento das universidades federais (doutor professor??); propostas para os alunos filmarem os professores em sala de aula sem autorização; ofensas do tipo “sem caráter e calhorda” ao presidente da França, Emmanuel Macron; ofensas a Lula e a Dilma no episódio ainda não esclarecido do militar que transportou drogas num avião da comitiva do tal presiBrasil; veio a público o desprezível desempenho do tal doutor professor no curso de economia; confusões em universidades após os cortes orçamentários executados pelo tal ministro; erros gramaticais e ortográficos; conflitos com a imprensa; falhas desastrosas no ENEM; ataques racistas aos povos indígenas; ataques racistas à China e ataques ao STF (o supremo da máxima justiça acertada).

Em 18 de junho de 2020, Weintraub anunciou sua saída do Ministério da Educação, em meio a uma investigação da polícia federal do Brasil, e numa possível fuga das responsabilidades com a justiça. A exoneração ocorreu enquanto o ministro estava em solo estadunidense. Após a saída do MEC, Weintraub foi indicado para trabalhar na diretoria do Banco Mundial. Passa bem!

Carlos Alberto Decotelli da Silva se diz um economista e professor brasileiro. Foi nomeado ministro da Educação do Brasil, em 25 de junho de 2020, mas cinco dias depois renunciou antes de assumir o cargo, em virtude de uma série de controvérsias em relação à titulação acadêmica informada em seu currículo, não chegando a tomar posse. Vários foram os memes com o selo Decotelli do Fake educativo. No currículo do Decotelli não se sabia o que era real!

Em 16 de julho de 2020, Chega um pastor ao Ministério da Educação, jesus! Milton Ribeiro é um pastor presbiteriano, teólogo, advogado e professor brasileiro. Até agora, segue com a fé que o trouxe ao poder, expondo ideias de reprovação ao homossexualismo; é a favor da censura em programas de televisão; e assumiu a benção de um deus ao defender que não é  ou será abençoada a vida sexual plena fora do casamento (putz!!) Ah! e a educação? Em meio à pandemia e aos shows de desinteresse e desorganização do governo para aquisição das possíveis vacinas, o tal ministro presbiteriano ainda não sabe se liberará o ensino superior em janeiro de 2021.

 

... a seguir, Capítulo Saúde.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Resíduos

Cartuxa - personagem principal
Nascido em Portugal, no ano de 2005, vermelho escuro, ficou armazenado por 5 anos, mantendo-se curioso, criativo, falante e espontâneo, aroma enlouquecedor. Quando conseguiu respirar, entregou-se ao seu destino, apesar dos resíduos.
RESÍDUOS
Dezessete graus centígrados...é a temperatura revelada num termômetro próximo ao meu guardião...que por 5 anos me envolve, com seu corpo reto e ombros bem definidos, cuja transparência de sua textura me permite observar o lugar em que vivo.
Um quarto compacto, com controle da umidade, cheio de prateleiras de madeira pura, criteriosamente distribuídas no espaço, com cortes arredondados, cujos formatos eram de encaixe perfeito para as dezenas de guardiões se deitarem e assim permanecerem imóveis, condenando à mesma situação os seus envolvidos.
Tais guardiões possuíam na ponta de seu pescoço um tampão esquisito, chamado rolha, difícil de remover. Perdi as contas das tentativas de diálogo para que me deixasse sair...ufa! e os empurrões...nada acontecia! Agora, curioso mesmo era uma espécie de caroço que o guardião possuía no fundo. Para que serve? Qual a utilidade? Que curiosidade?
Crrrrrrrrr!!! Eita! alguém está entrando. É o proprietário do lugar. Um senhor alto, esguio, cabelos brancos, sério, olhar arregalado.  Há um tempo ouvi alguém chamá-lo por Orlando. Era nessas ocasiões que o silêncio do lugar era quebrado.
Orlando nos observava, e num ritual de espantar se aproximava das prateleiras...retirava alguns guardiões do lugar, erguendo-os a uma certa altura...depois lia as mensagens grudadas em seus corpos, os rótulos, que traziam informações nossas, os envolvidos, ou como nos costumam chamar, vinho. Em seguida, sumia com o escolhido.
Sobre mim, o verso do rótulo revela que sou de Portugal, uma mistura de três uvas, cor vermelho escuro, teor alcoólico de 14%, o que quer dizer que sou curioso, criativo, falante, espontâneo e com muita ciência do sex appeal, além do meu nome. Chamo-me Cartuxa, nascido em 2005.
Epa! Orlando se aproxima de mim! Será que é a minha vez!!!  Será que, finalmente, sairei daqui? Vejo mãos ao redor do meu guardião...como é bom experimentar outras posições além da horizontal...o meu rótulo...Orlando está lendo minhas informações...sou Cartuxa...nasci em 2005...não aguento mais ficar por aqui...curioso, criativo, falante, espontâneo e ciente do sex appeal...desespero-me: ELE ME ESCOLHEU! ELE ME ESCOLHEU! VOU SAIR! VOU SAIR!
Não quero perder um detalhe! Quanta curiosidade, mas uma insiste em me comandar: para que serve aquele caroço no fundo dos guardiões. Ahhh!! lentamente, seguros pelas mãos do Orlando, observo ficar para trás o lugar em que vivi. Adeus prateleiras, adeus baratas, aranhas...chegou a minha vez. Uma porta se fecha atrás de nós. Abre-se um outro mundo!
Que lugar claro! Que lugar colorido! Que lugar diferente! Orlando nos coloca numa mesa bem preparada. Uma outra pessoa coloca junto ao meu guardião uns copos esquisitos, com pés altos e finos e bocas grandes.
Duas visitas se sentam junto à mesa. Orlando traz um metal esquisito, pega o meu guardião entre as mãos, aperta-lhe o pescoço e encaixa o esquisito metal no gargalo. Aos poucos a rolha que por tanto tempo me prendeu vai saindo. Ufa!! eu não acreditava. Enfim, livre!!!!
Fiquei tão, mas tão feliz que contaminei todo o lugar com meu aroma, só de um sopro, um sopro de alívio, um sopro de liberdade, um sopro só por respirar.
Ah! Os olhares de encanto de Orlando e de suas visitas me embalam. Sigo respirando, respirando...de repente vou me desgrudando de meu guardião. Divido-me entre os tais estranhos copos. Naquele momento, senti-me pleno ao ser conduzido pelo destino, e no compasso de risos e conversas, deleito-me em mergulhos no corpo humano.
Ah!!! E numa espécie de rompante, volta a curiosidade: para que serve aquele caroço no fundo dos guardiões? Dentre as várias informações, uma me chamou atenção: acúmulo dos resíduos. Resíduos. Resíduos do que antes eu fui...
Adriane Morais

CONTO EU, NO MEU TEMPO!



Final de ano, encontro-me distante. Sentidos sem conexão, buscando ao redor energia para superar a pane em flashes. Numa agitada praça, percorro espaços querendo o íntimo.
Formatos e movimentos, novos uns, novamente outros, misturam-se a um guerreiro verde, elevado por caules em folhas ou rastejante em gramados. Nada, além de mim, está imóvel e solitário na praça.
Um casal de idosos caminha de mãos dadas; uma mulher falando ao celular puxa numa coleira um cachorro ou cadela, nem sei, pois tantos eram os adereços e poucas eram as partes à mostra; uma pessoa conversando ao celular caminha com outra também ao celular; duas pessoas juntinhas e sentadas, mas conquistadas por conexões virtuais; um ciclista envolve a bicicleta com um cadeado; crianças exploram brinquedos de ferros e madeira e os gritos, risadas e choros testam os sentidos dos pais e mães; um pequeno grupo define espaço com panos no chão, comidas e bebidas em caixas e solos de violão; uma pessoa grita por outra; um gato corre atrás de outro e um cansado cachorro se espreguiça no gramado. Isso tudo já é saudade. Eu, curto circuito!
Apesar do claro, o escuro me acompanha nos formatos e movimentos fora de mim. A ansiedade encurta e acelera os flashes. Pronto! Sou quase nada num turbilhão de interrupções.
O sol recolhe as cores e parte da lua começa a chamar estrelas. Os formatos e movimentos continuam, pois não os deixo sair do que ainda tenho como imagem de ação. Novos uns, novamente outros. Não quero, mas o sentido que me deu origem mudou, e antes do fechamento da praça, deixo de ser sem despedidas.
Reergui-me junto com o amanhecer! Sinto-me diferente. Está tudo claro, sem a intromissão do escuro. Olhei ao redor. Mantive silêncio, mas a praça já era movimento dos visitantes. Novos uns, novamente outros.
Aproxima-se o casal de idosos. Caminham e juntos são cúmplices da solidão de possuírem família que não os têm; o cachorro/cadela que, com repletos adereços, desfila em quatro patas a agonia do carinho imposto pela dona mãe; conversas infinitas entre pessoas juntas, mas afastadas por celulares; ciclistas envolvem em cadeados diversos bicicletas para impedir que outras pessoas as façam sumir; crianças buscando atenção dos pais e mães em arriscadas brincadeiras; risos e canções de um grupo em piquenique nem sempre são finalizados com ausência de choros e violência; gritos nem sempre felizes; animais descansam na praça dos riscos das ruas. Isso tudo e muito mais para o bem ou para o mal apenas seguem. Eu, renovado? Por quê?
O ser humano é uma estrutura mutável e por assim ser o passado se torna provocação do futuro que o presente planeja, perseguindo o perfeito numa versão presa no insuficiente e/ou decadente.
O homem se espelha no bem e se desafia no mal, ou será o contrário? O fato é que venho como solução humana e assim condenado a dar luz num escuro público natural.  
Pois então, sou assim, uma versão renovada e sustentável de mim. Uma cria humana, desligada de cabos emaranhados, mas fincado no solo, para ser a energia sol de um painel, doando luz ao que é e ao que será, num ano que não me fez fim, seja para o bem ou para o mal, conto EU, no meu tempo!

Adriane Morais