Quando
criança não parava quieto. Sempre foi de uma energia potencializada. Dizia-lhe
a mãe. Um futuro?! A vida lhe estava
ensaiando.
Nos giros
compactos do tempo, Heitor, já adolescente, segue lhe desenvolvendo a vida. Temperamento
inquieto, encontrou na prática esportiva uma excelente forma de se tornar mais
concentrado e motivado para demais atividades. Futebol e natação lhe ganhavam a
preferência. Comunicativo, risonho e estudante curioso, fazia amizade fácil.
Aos 15 anos, Heitor, amplificado nos hormônios, vontades e ambições, construía
um futuro nos tais ensaios convocados pela vida...temos nosso próprio tempo...
Aos 17
anos, Heitor, dividido entre namorada, amigos, esportes, família, estudos e
ilimitados porquês, e não necessariamente nessa ordem, soltava-se cada vez mais
às ebulições dos fatos e circunstâncias que surgiam. Concomitantemente, nos
ensaios do palco vida, são abertas as cortinas da insegurança, do medo, da
desilusão, da decepção e da mentira, puxadas por roldanas da vontade e da autoestima
ainda bem reforçadas.
E o tempo
segue! Heitor, apesar dos excelentes prazeres vividos no palco vida, sentia que
certo vazio lhe estava disputando espaço. Um sentimento sempre presente, mas
que, de repente, e sem saber explicar o início e compreender o porquê, assumia
com certa velocidade o ritmo dos ensaios. As roldanas da vontade e da autoestima
começavam a dar sinais de desgastes.
Euforia,
sonolência, ansiedade, alucinações e delírios lhe compunham os seus 25 anos. Um
futuro?! A vida lhe estava alertando.
Heitor!
Acorda Heitor. Vozes distantes o estimulam à participação nos ensaios.
Distante...Heitor também observava sua mãe, pai e o irmão caçula paralisados
diante de alguém que se tornava assustadoramente incapaz. Por alguns minutos
questionou a sensação da distância, já que eram tão próximos. Família! Ainda
sem saber quando tudo isso começou a lhe transformar, o vazio se tornava seu
refúgio.
Os
internamentos eram frequentes. Dependência e crises de abstinência passaram a
abrir as cortinas da esperança, da fé, da solidariedade e das lembranças,
revelando um Heitor num palco, cujos ensaios lhe eram raros. Um futuro?! A vida
lhe interrogava.
A imagem
do vício lhe conduzia a um status de um morto vivo. No palco, Heitor se sentia
uma marionete. O ser humano se limitava à sua fragmentada aparência. Cabeça
recortada das lembranças; membros inferiores e superiores acionados por
estímulos químicos; e olhar alienado...o que foi escondido é o que se escondeu...Um
futuro?! A vida lhe interrogava.
Nos
compactos giros, o tempo Heitor sucumbiu. Numa rápida passagem no palco vida, Heitor
não conseguiu ser futuro. Os ensaios foram interrompidos, levando motivos,
porém intensificando vazios. Porque somos tão jovens!
Adriane Morais